O Estado de São Paulo, n. 46741, 07/10/2021. Política p.A12

 

Governadores cobram Lira sobre mercado de carbono

 

Coalizão envia carta ao presidente da Câmara em que pede que projeto de lei seja aprovado com urgência pelo Congresso

 

Marcelo Godoy


A coalizão dos governadores pelo clima vai enviar hoje uma carta ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-al), pedindo que o projeto de lei que regula o mercado de créditos de carbono seja provado com urgência pelo Congresso. De autoria do vicepresidente da Casa, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), o texto estabelece regras para a certificação e o comércio dos créditos, hoje negociados apenas de forma voluntária no Brasil.

Ao todo, 15 governadores já haviam assinado o documento até a conclusão desta edição – outras adesões devem ainda ocorrer. O desejo dos governadores é tentar a aprovação do projeto antes da Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP-26, que vai ocorrer em Glasgow, na Escócia, a partir do dia 1.º de novembro.

"O Brasil só ganha com a aprovação do projeto antes da conferência", afirmou o ex-secretário do Meio Ambiente de Pernambuco Sérgio Xavier, que é articulador do Centro Brasil no Clima (CBC), uma organização não governamental que apoia o movimento dos governadores. Entre os signatários estão Ronaldo Caiado (GO), João Doria (SP), Paulo Câmara (PE) e Renato Casagrande (ES).

Na segunda-feira passada, os governadores da Amazônia Legal discutiram o apoio ao projeto no âmbito da coalizão dos governadores pelo clima, que reúne 25 chefes de Executivos estaduais do País. O encontro, que teve apoio do CBC e de outras organizações, ocorreu em Manaus e reuniu Marcelo Ramos e os governadores Wilson Lima (AM), Waldez Góes (AP) e Helder Barbalho (PA), além do coordenador da coalizão, Renato Casagrande.

Os governadores criaram a coalizão na esteira da ausência de políticas ambientais do governo de Jair Bolsonaro, alinhado a madeireiras, garimpeiros e empenhado na defesa de mineração na Amazônia, inclusive em terras indígenas. Só neste ano, os governadores já se encontraram com o enviado especial do governo dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, com representantes da União Europeia e com o presidente da COP-26, Alok Sharma.

Pelo menos dez governadores devem comparecer à COP, estabelecendo um protagonismo inédito dos entes subnacionais brasileiros nas discussões internacionais sobre o clima. "Esperamos que outros governadores também assinem o documento", disse o diretor executivo do CBC, Guilherme Syrkis.

Os signatários da carta defendem que a aprovação do projeto vai "aumentar a competitividade da economia brasileira no cenário internacional, cada vez mais favorável e baseado em conceitos de sustentabilidade e ESG (do inglês Environmental, Social and Corporate Governance, ou governança ambiental, social e corporativa), especialmente no setor do agronegócio". Para os governadores, a regulação do mercado é necessária ainda para aumentar "a ambição e as contribuições do País para limitar o aumento da temperatura global em 1,5 C°", ao mesmo tempo que pressionaria os demais países a aumentar suas ambições nessa área.

'Sinal'. Com isso, segundo o documento dos governadores, também aumentariam as vantagens para o Brasil, como potencial exportador dos créditos de carbono. Um mercado regulado também incentivaria os mecanismos de financiamento de ações climáticas na Amazônia e em outros biomas do País.

"A criação de um mercado de carbono no Brasil é um caminho sem volta. É muito importante ver esse mecanismo implantado em nível nacional, por isso esperamos pela aprovação do projeto de lei", afirmou Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, que reúne grandes empresas brasileiras. "Seria uma sinalização clara de que o Brasil está caminhando para um desenvolvimento sustentável e para uma economia de baixo carbono."

 

• 'Caminho sem volta'

"A criação de um mercado de carbono no Brasil é um caminho sem volta. É muito importante ver esse mecanismo implantado."

Marina Grossi

PRESIDENTE DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL