Título: Tom político domina declaração
Autor: Luiz Orlando Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 12/05/2005, País, p. A3
Documento final defende a criação do Estado palestino e pede eliminação das armas nucleares no Oriente Médio
A Declaração de Brasília ¿ adotada ontem, ao fim da Cúpula América do Sul-Países Árabes ¿ foi bem mais política e multilateral do que se esperava de um encontro para estabelecer as bases de uma efetiva cooperação comercial e econômica entre as regiões. Os 34 países representados por 17 chefes de Estado ou de governo ¿ incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ¿, ministros e autoridades, ¿enfatizam a importância do combate ao terrorismo em todas as suas formas¿; ¿reafirmam a não-aceitação da ocupação estrangeira e reconhecem o direito dos estados e povos de resistir à ocupação estrangeira¿; exigem ¿a completa eliminação de armas nucleares e de outras armas de destruição em massa¿ no Oriente Médio, no que foi considerado uma referência semi-direta a Israel; ¿expressam profunda preocupação com as sanções unilaterais impostas à Síria pelos Estados Unidos¿; e ¿convocam¿ a Argentina e a Grã Bretanha a restabelecer negociações sobre a ¿controversa¿ soberania das Ilhas Malvinas ¿ item que o presidente Néstor Kichner conseguiu garantir.
O documento tem 15 páginas, com 103 parágrafos divididos em 12 temas, dos quais o mais longo (21 tópicos, ou seja, 20% da declaração), é exatamente o que dá destaque à situação no Oriente Médio, intitulado ¿Fortalecimento da Cooperação Bi-regional, das Relações Multilaterais, da Paz e da Segurança¿. O substantivo ¿democracia¿ aparece apenas uma vez na ¿Declaração de Brasília¿, quando trata da reforma da ONU.
O adjetivo ¿democrático¿ surge no documento quando ¿ ao acentuarem a ¿importância de respeitar a unidade, a soberania e a independência do Iraque¿ ¿ os países sul-americanos e árabes falam do ¿estabelecimento de um governo democrático, constitucional e federal (se assim decidir o povo iraquiano) e à conclusão do processo político¿.
A Declaração de Brasília contém ainda três tópicos sobre ¿Cooperação Econômica¿, nos quais os países presentes à cúpula ¿afirmam que a paz, a segurança e a estabilidade nas suas respectivas regiões constituem a base da prosperidade econômica e do desenvolvimento social¿, e ¿assumem o compromisso de intensificar a coordenação de suas posições nos foros econômicos e comerciais para tratar de interesses mútuos¿.
Os demais capítulos tratam do comércio internacional ¿como meio para promover o desenvolvimento econômico, gerar oportunidades de emprego¿, entre outros objetivos; do sistema financeiro internacional, em face da necessidade de reformas que ¿apóiem os esforços dos países em desenvolvimento no sentido de alcançar o crescimento econômico com igualdade social¿.