Título: Encontro não trará efeitos a curto prazo, dizem analistas
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 12/05/2005, País, p. A4
Posição de líder regional assumida pelo Brasil pode deixar país mais exposto
Apesar dos fatores envolvidos - petrodólares de um lado, uma importante produção de commodities agrícolas do outro, a expectativa de muitos negócios por fechar - a agenda política dominou o ambiente da Cúpula América do Sul - Países Árabes, se sobrepondo à parte econômica do evento que terminou ontem. A reunião está longe de ser avaliada como um fracasso do ponto de vista comercial, avaliam especialistas. Ao dar o primeiro passo na aproximação entre as duas regiões, o Brasil teria aberto as portas de um mercado com enorme potencial na diversificação da pauta de exportações.
Do ponto de vista político, a posição de líder regional assumida pelo Brasil, no entanto, poderá deixar o país mais exposto aos efeitos políticos de um evento dessa monta, observa o embaixador Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Um exemplo é a repercussão negativa da Carta de Brasília, assinada ontem pelos representantes dos governos participantes da cúpula. Várias entidades judaicas assinaram manifesto divulgado ontem criticando os resultados do encontro.
- A maior contribuição que a América do Sul poderia ter dado aos países árabes seria sua experiência na transição de governos ditatoriais para regimes democráticos. No entanto, a palavra ''democracia'' não foi citada uma vez sequer no documento - ponderou o representante da Fundação Simon Wiesenthal, ligada ao Estado de Israel, Sérgio Widder.
Os ganhos comerciais não virão a curto prazo, observa Rubens Barbosa. Para ele, o acordo de livre comércio firmado entre as regiões não terá maior impacto para o comércio exterior brasileiro dentro de um ou dois anos, mesmo que cumpra a expectativa de dobrar o volume das exportações brasileiras para a região, como é aventado pelo Itamaraty.
- O fluxo de mercadorias que seguem do Brasil para os países árabes corresponde a 3,8% da nossa pauta de exportações. Mesmo dobrando esse volume, essa região terá apenas uma participação marginal em nossos embarques. É na diversificação das nossas relações comerciais que reside a importância desse evento - considera o embaixador.
De acordo com Barbosa, o governo brasileiro demonstrou grande poder convocatório ao atrair representantes de governos de 34 países para o encontro, e isso se refletirá na discussão de outros acordos comerciais internacionais.
Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Argemiro Procópio, alguns setores da economia terão ganhos imediatos. As exportações de móveis e café, segmentos já tradicionais na pauta de exportação para países árabes, aumentam sempre que acontecem feiras de negócios entre esses países, e não tardarão a receber a influência positiva de um evento do porte da cúpula, exemplifica.
- A cúpula foi o momento de trocar cartões. É a partir de agora que os negócios começam a ser fechados - acredita o especialista da UnB.