Título: Avião leva pânico a Washington
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Fonte: Jornal do Brasil, 12/05/2005, Internacional, p. A8
Pequena aeronave chegou a apenas 5 km da Casa Branca na capital americana. Vice-presidente teve que deixar a Casa Branca
A memória dos atentados de 11 de setembro de 2001 voltou à tona ontem na capital americana, em mais um dia 11, dessa vez em maio. Em questão de minutos, o Departamento de Segurança Interna passou o alerta para terrorismo de amarelo para vermelho. O motivo do pânico foi um avião pequeno, um Cessna-150, que avançou no espaço aéreo de Washington até 5 km da Casa Branca.
Às pressas, funcionários da Casa Branca (sede do governo) e do Capitólio (sede parlamentar americana) foram retirados dos prédios.
- Isso não é treino - gritava na rua um agente federal.
Agentes secretos vasculharam as dependências de ambos os edifícios, enquanto um caça F-16 patrulhava o céu. No momento do alerta, Bush não estava na residência oficial, mas passeava de bicicleta, com seguranças, em um parque de Maryland, e foi levado para um local seguro e secreto.
- Eu estava dentro do Senado e agentes federais entraram gritando para sairmos dali. Larguei tudo e corri - contou o senador Richard Shelby.
- As pessoas gritavam nas galerias - disse o deputado Bob Ney.
Ao mesmo tempo, em alerta laranja, Laura Bush e a ex-primeira-dama Nancy Reagan, que estavam na Casa Branca, foram transportadas para um esconderijo. O vice-presidente, Dick Cheney, que trabalhava na Ala Oeste, também foi retirado do local.
Em outros prédios federais - como o Departamento do Tesouro e a Suprema Corte - os funcionários foram encaminhados a locais seguros, sem precisar deixar os edifícios.
Às 12h03, quatro minutos após a invasão do perímetro aéreo restrito, o código de risco chegou a vermelho, o máximo. O Cessna estava a apenas 4,8 km da sede governamental. Foi quando o piloto, que não respondia às tentativas de contato da polícia federal (FBI), mudou a rota de vôo para Oeste, para longe da Casa Branca. Às 12h14, o alerta voltou ao estágio amarelo. O avião foi escoltado até Frederick (Maryland) por dois caças e um helicóptero Blackhawk.
Desde os atentados a Nova York e Washington, o Aeroporto Nacional Reagan foi fechado para aviação geral e uma área de 26 km radiais em torno do Monumento Washington se tornou inacessível para vôos comerciais.
O piloto e uma segunda pessoa, ficaram sob custódia policial, mas foram liberados à noite. Dados da Administração Federal de Aviação indicam que a aeronave é registrada no Vintage Aero Club, em Smoketown (Pensilvânia), e decolou da pista local. O membro do clube, John Henderson, contou que o aparelho estava reservado para ser usado por Jim Sheaffer e pelo estudante de pilotagem Troy Martin.
- Os dois homens não estavam autorizados a sair do aeroporto com o Cessna - afirmou o chefe da polícia de Washington, Terrance Gainer.
Segundo a mulher de Marton, Jill, ele e Sheaffer estavam a caminho de um show aéreo em Lumberton, na Carolina do Norte:
- Troy comentou comigo na véspera que eles iam voar entre duas zonas restritas e estudavam o que fazer para evitá-las.
Por isso, as autoridades acreditam que ambos tenham invadido por engano o perímetro proibido da capital.
- Aparentemente, eram pilotos errantes - disse Gainer.
Mesmo sem a proporção do 11 de Setembro, o incidente gerou debate em função dos bilhões de dólares gastos em prevenção. O colunista da ABC News, John J. Nance, se perguntou ''como pode um avião pequeno invadir o espaço da Casa Branca?''.
''Pode parecer bizarro, mas a verdade é que a 25 km de altitude, todo o centro de Washington e os prédios públicos parecem muito pequenos'', escreveu. ''Se o tempo estiver nublado, então, é quase impossível visualizar o chão. É por isso que os pilotos devem basear a navegação em mapas de rota e equipamentos de posicionamento global.