Título: Treze de maio
Autor: Gilberto Alves da Silva
Fonte: Jornal do Brasil, 12/05/2005, Outras Opiniões, p. A13
É um dia de comemoração ou de reflexão? Cerca de 100 milhões de africanos foram escravizados e mortos para atender ao sistema escravocrata das Américas. O continente africano foi o único no mundo que teve sua população estagnada nos últimos 400 anos. Matou-se um continente, cometeu-se um genocídio ao longo de trezentos e cinqüenta anos.
A África Negra foi condenada à estagnação demográfica e econômica, seus homens, mulheres e crianças foram escravizados, mortos, torturados, violentados culturalmente para que portugueses, espanhóis e ingleses pudessem produzir suas riquezas nas colônias. Não se conhece genocídio maior na história da humanidade.
Quando se toma conhecimento da forma como estes seres humanos eram transportados da África, nos Tumbeiros, pois os navios eram verdadeiras tumbas, qualquer ser humano não pode deixar de se emocionar.
Estes homens, aqui chegaram e formaram a mão-de-obra dos vários Ciclos Econômicos pelos quais o Brasil passou no período colonial, começando pelo do Pau-brasil no séc. 16 até o meado do séc. 19, onde há o renascimento agrícola, com o algodão, tabaco e cacau que eram os principais produtos de exportação.
Participaram com seu sofrimento e sangue na construção do país, lutaram na Guerra do Paraguai, onde há estimativa de que morreram em torno de 140 mil negros. Muitos aderiram a alforria forçada de negros para lutarem no Paraguai que teve origem com o decreto nº 3275-A, de 6 de novembro de 1866. Este documento, assinado por Zacarias Góis e Vasconcelos que estava frente do Conselho de Ministro do império, autorizava ''....que, aos escravos da nação , que tiverem em condição de servir ao Exército, se dê gratuitamente liberdade para se empregarem naquele serviço.....'' . Esta liberdade nada mais era que o engajamento, isto é, o negro deixava a chibata dos feitores para a guerra, onde a maioria deixou a vida. Não tinha outra opção. Era a chibata ou a guerra.
Os que retornaram da guerra junto com aqueles que foram libertos pela Abolição, se viram totalmente marginalizados, como lúmpen do lumpemproletariado, pois houve um engano muito grande da elite da época, ao pensar que deixando essa camada da população, quase 800 mil, à margem da sociedade o Brasil iria ter um efetivo desenvolvimento. O grande erro foi não se ter preparado esses seres humanos para esta mudança radical, chibata e liberdade não assistida.
O Brasil Imperial e, logo a seguir, o jovem Brasil republicano, negou-lhe a posse de qualquer pedaço de terra para viver ou cultivar, de escola, de assistência social, de hospitais em outras palavras: agora que se virem!
Deu-lhes, somente, discriminação e repressão. Grande parte dos libertos, após perambularem por estradas e terrenos desocupados, dirigiram-se para às grandes cidades como Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo e ergueram os chamados bairros africanos, origem das favelas modernas. É interessante ressaltar que o Brasil vive às avessas, pois em todos os países a classe mais abastada vive no alto, descortinando todo o visual enquanto que aqui, é o pobre que tem este privilégio.
Hoje, a situação teve uma pequena melhora, mesmo assim, perdura uma grande diferença entre negros e brancos. A população brasileira é constituída de 45,3% de negros ( negros e mulatos), sendo a maioria entre os pobres indigentes (pessoas que não passam de R$ 60,00 por mês, segundo o Ipea). Dos 53 milhões (36%) de brasileiros que estão na linha de pobreza, 33,7 milhões (63,63%) são negros e 19 milhões (35%) são brancos. Entre os indigentes, que representam 22 milhões (14%) no país, o número de negros é maior, sendo 15,1 milhões.
Ainda segundo o Ipea, dados de 2002, a taxa de analfabetismo entre negros com 15 anos ou mais é 18,2%, enquanto que entre os brancos é de 7% . Quanto a questão universitária a diferença é flagrante, pois aí temos, 72,9% de brancos contra 24,1% de negros, dados de 2003.
O número de celulares também apresenta uma diferença que é notada, 2,1% dos negros e 38,9% dos brancos possuem o aparelho.
Após tudo que foi descrito, anteriormente, cabe a pergunta: 13 de maio é uma data comemorativa ou uma data para reflexão?