Título: Quartel-general do jogo do bicho
Autor: Carolina Benevides
Fonte: Jornal do Brasil, 12/05/2005, Rio, p. A15

Contador brigou com Castor de Andrade e entregou contabilidade para a Justiça. Políticos e policiais recebiam propina da contravenção

Em 1994, uma briga entre Castor de Andrade e seu contador fez com que promotores do Ministério Público (MP) descobrissem, em Bangu, seis escritórios do contraventor. Eles foram estourados pela polícia e um deles ficou conhecido como fortaleza, onde foram encontrados cinco cofres, disquetes, armas e livros-caixa com nomes de políticos, banqueiros do jogo do bicho, promotor, delegados, advogados, deputados e políticos, entre eles o então governador Nilo Batista e o prefeito Cesar Maia. E anotações de quantias entregues também para a Divisão Anti-Seqüestro (DAS), Polinter e Delegacia Marítima da Polícia Federal. Na fortaleza, que ficava na Rua Fonseca 1.030, funcionava a contabilidade geral das apostas. No número 1.040, onde funcionava o escritório de videopôquer e videobicho, a movimentação mensal chegava a US$ 250 mil. Os livros-caixa continham a contabilidade desde 1979.

Na época, o advogado Wilson Lopes dos Santos afirmou que Castor não tinha dinheiro e que ele teria gasto tudo quando adoeceu. Nomes de 50 políticos apareciam nos livros e segundo as anotações três delegados, um perito e quatro agentes da Polícia Federal receberam juntos US$ 200 mil, em um período de oito meses.

A polícia chegou até a fortaleza depois que Castor e seu contador Nelson Araújo Leitão se desentenderam. O racha aconteceu quando o genro do contraventor, Fernando de Miranda Ignácio, e o delegado Inaldo Júlio de Santana, na época chefe de gabinete da diretora do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), tentaram corromper o delegado Mário Covas, diretor do Departamento Geral de Polícia do Interior (DGPI). Eles queriam que Covas fizesse parte da lista de propinas da intervenção. Ignácio foi preso em flagrante na sede da Polícia Civil com uma mala 007 cheia de dólares.

Para livrar Ignácio, Castor tentou incriminar o contador, que trabalhava com ele há mais de 12 anos e se recusou a assumir a culpa.

Com livre acesso à estrutura da organização, Nelson não se entregou e esperou cinco meses para agir e procurar a juíza Denise Frossard. Para ela, Nelson entregou a relação dos endereços que foram estourados. Neles, além da contabilidade de Castor, organizada em livros e disquetes com nomes, datas e valores, foram encontradas as provas de que o bicho financiava o tráfico de drogas no Rio.

A quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico de policiais e políticos foi pedida pelo então procurador-geral de Justiça, Antônio Carlos Biscaia. Todos eram suspeitos de envolvimento no esquema de propina da cúpula do jogo do bicho.

O Ministério Público denunciou cerca de 70 pessoas, cujos nomes apareciam nos livros-caixa. Castor ficou foragido de março a outubro, quando foi preso no Salão do Automóvel, em São Paulo.