Título: Sistema trava computador popular
Autor: Marcela Canavarro
Fonte: Jornal do Brasil, 12/05/2005, Economia & Negócios, p. A19

Projeto deve ser anunciado hoje, com dois meses de atraso, em meio à guerra entre defensores do Windows e do Linux

Alguns setores do governo não falam a mesma linguagem - nem rodam o mesmo sistema operacional. Na véspera do anúncio do PC Conectado, programa do governo federal para popularização dos microcomputadores, ainda não havia definição sobre que sistema será adotado: Windows, da gigante Microsoft, ou Linux, de fonte aberta. Este é um dos pontos polêmicos que levaram o governo a adiar o lançamento oficial, previsto para março. A promessa é que o anúncio seja hoje, em Brasília. De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, também deve ser editada Medida Provisória com as condições de incentivo fiscal aos fabricantes. A expectativa no setor é de que haja isenção de PIS/Cofins.

Fontes ligadas ao projeto informaram que as divergências travavam a conclusão. A última reunião antes do anúncio ainda não havia terminado até o início da noite.

O governo chegou a afirmar preferência pelo software livre, que iria ao encontro de sua política nacional de desenvolvimento da indústria nacional deste segmento, ao gerar empregos e diminuir os gastos com o pagamento de royalties. Ontem, José Luiz de Cerqueira César, diretor de tecnologia do Banco do Brasil, propôs a criação de um grupo internacional para promover software de fonte aberta e desafiar o domínio da Microsoft.

- O software livre envolve uma visão estratégica de desenvolvimento desta indústria no Brasil. Mas a tendência é que o projeto não inclua uma norma restritiva. Até agora, a Microsoft não atendeu ao desempenho e à simplicidade necessários aos aplicativos - afirmou o assessor especial da presidência e coordenador do projeto César Alvarez, após o primeiro adiamento, em março.

O grupo de estudo de software do projeto reprovou o Windows Starter Edition, versão popular da plataforma da Microsoft. A corrente do projeto oposta à exclusividade do software livre argumentou que o incentivo fiscal não poderia restringir-se a apenas um grupo de fabricantes.

Para o diretor-geral da Future Security, André Diamand, investimentos em aplicativos e em segurança são maiores para o Windows, o que lhe dá vantagens em um PC popular.

- Para o PC Conectado ser viável economicamente não poderia ser com Windows, mas para o usuário, ele é mais indicado porque é mais fácil. O governo está numa sinuca de bico.

Com a indefinição, a Positivo Informática, um dos fabricantes envolvidos no projeto, se adiantou ao governo e lançou sua versão popular a um custo de R$ 1.299, com software livre. Outra fabricante, a Cobra Informática já está com os produtos prontos para serem lançados. Segundo a coordenadora do projeto PC Cidadão da empresa, Sandra Recalde, será usado apenas o software livre Freedows, baseado em Linux, e o preço será de até R$ 1,4 mil.

Este é o valor máximo aceito pelo governo para o PC popular, financiado pelos bancos com parcelas de até R$ 50. Há duas semanas, os fabricantes receberam as informações sobre a configuração e o incentivo fiscal. Os computadores devem vir equipados com 26 aplicativos, disco rígido de 40 GB, 256 MB de memória RAM, placa de rede e CD-ROM.