Título: População acredita em corrupção na Justiça
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/05/2005, País, p. A6

Uma pesquisa de opinião sobre a imagem da Justiça mostrou que 75,2% dos brasileiros consideram que há corrupção no Judiciário e 86,7% acham necessária a criação de um órgão que a fiscalize. Indagados se alguém pode ser beneficiado ilegalmente por uma decisão judicial, 65,4% disseram que sim. Uma pergunta sobre a possibilidade de um processo ''passar na frente de outros'' de forma ilegal recebeu resposta afirmativa de 61,9%.

A pesquisa foi realizada pela Universidade de Brasília e paga pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Foram ouvidas 2 mil pessoas maiores de 18 anos em cem cidades. Elas foram escolhidas por sorteio, a partir do cadastro nacional de eleitores.

Esses resultados serão examinados pelo Conselho Nacional de Justiça, o órgão de controle externo, que será instalado até 3 de junho próximo e que terá poder de interferir o planejamento administrativo dos tribunais e de fiscalizar juízes.

A maioria dos entrevistados - 67,2% - acredita que não-juízes devem participar dessa fiscalização. Dos 15 membros do CNJ, 6 estão nesta condição: 2 advogados, 2 membros do Ministério Público e 2 cidadãos escolhidos pela Câmara e pelo Senado para representar a sociedade.

Para o professor da UnB Henrique Carlos de Castro, que coordenou esse trabalho, a imagem de corrupção pode ser atribuída à farta publicação de reportagens sobre irregularidades na Justiça, como o desvio de dinheiro do prédio do Fórum Trabalhista de São Paulo.

O presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Grijalbo Coutinho, acredita que a principal causa dessa imagem negativa é a lentidão dos processos, porque as pessoas confundiriam ineficiência com corrupção.

A pesquisa também mostrou que muitas pessoas ignoram o papel institucional do Judiciário. Somente 52,6% acham que o Poder pode derrubar uma decisão do presidente da República, e 31,2% acreditam que o presidente tem o poder de mandar na Justiça.

Grande parte dos entrevistados -83%- acha que vale à pena procurar a Justiça, o que indicaria uma certa confiança no seu funcionamento.

A pesquisa mostrou ainda que apenas um terço das pessoas -33,1%- já acionou ou foi acionada judicialmente. Desses, apenas 31,9% já tiveram o processo encerrado. Indagados se a Justiça resolveu o problema deles, 51,3% disseram que sim, 15,3%, que não, e 33,5% não souberam responder.