Título: Medida preventiva e estresse (parte 1)
Autor: Sérgio Abramoff*
Fonte: Jornal do Brasil, 14/05/2005, Outras Opiniões, p. A11

Talvez o mais etéreo, indefinido e complicado fator de comprometimento da qualidade de vida seja o estresse emocional. Sabemos que é necessária muita força de vontade para não fumarmos ou bebermos em excesso, e para praticar exercícios e procurar manter uma dieta saudável. Mas o estresse parece estar além de nossas forças ou controle.

A primeira dificuldade é que ele parece vir de fora para dentro, nas cobranças e limitações que são feitas por pessoas ou circunstâncias àquilo que seria nossa maneira mais natural de estar no mundo.

Começa pela nossa família. Leva um tempo para descobrirmos e se possível aceitarmos as imperfeições de nossos pais, o ciúme ou inveja naturais entre irmãos.

Quando temos muita sorte de sermos criados em uma ''boa família'' rapidamente percebemos que as regras, fora dos limites de nossa casa, são violentas, pouco solidárias e não compassivas.

Nossa contribuição pessoal para o contexto geral também não é lá nenhuma ''brastemp'', temos uma natureza psíquica por demais complexa.

Ansiedade, depressão, frustrações e decepções, faltas disso ou daquilo. São tantas as possibilidades de entraves, que por vezes chegamos a nos surpreender ao nos depararmos com uma pessoa que nos parece genuinamente feliz. Quais seus segredos?

Outro fator complicador, o tempo. Começo, meio e fim em tudo e em todos. Prazos, compromissos, relógios de ponto, entregas, promissórias vencendo, atrasos, esperas, e mais frustrações, isto sem falar da sensação de que a velocidade dos fatos e da vida em geral parece em contínua aceleração. Como administrar melhor nossa relação com o tempo?

O ambiente de trabalho também contribui, freqüentemente, para colocar a maioria à beira de um ataque de nervos. Chefes não tão competentes quanto deveriam, salários aquém de nossos méritos, colegas geralmente ressaltando mais os defeitos do que as qualidades, a competição falando mais alto do que o companheirismo.

No campo social, esta violência e insegurança, que nos sobressalta esteja onde estivermos, não havendo mais cidadela segura.

Nosso presidente, embora oriundo das camadas menos favorecidas, parece enredado numa malha de corrupção e incompetência cívica por parte de políticos que deveriam ter como único objetivo o bem comum, sobrando para nós os bagaços severinos e andreluízes.

Valores de relacionamento e objetivos de vida são modelados pelos anúncios e pelas telenovelas, as conversas vão se tornando fúteis, nenhum ideal, pouca cultura, o verniz social escondendo um sórdido ''network'' de interesses e conquistas.

E é neste cenário que pretendemos ser felizes, evitando o estresse e sua influência nefasta no equilíbrio de nossos sistemas psíquico e imunológico. Por onde começar? Nossa próxima conversa.