Título: Outros olhares sob novos paradigmas
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/05/2005, País, p. A4

Passada a efervescência dos eventos e assentada a poeira da Cúpula América do Sul¿Países Árabes, é hora de olhar a floresta para não se perder o sentido das coisas, apenas contando as árvores. No debate dos últimos dias, a discussão sobre as árvores infelizmente, predominou. A construção do novo paradigma da globalização pós industrial também está presente nas relações internacionais e continuar funcionando com a cabeça no enfrentamento entre Ocidente e Oriente, para não lembrar do velho dilema Leste-Oeste, no eixo Sul-Sul dos não alinhados ou pior ainda, nas relações de dominação Centro-Periferia, é ignorar ¿ por ingenuidade ou miopia ideológica ¿ que estratégias de presença e conquista de mercado, de participação política e de difusão de idéias, como a democracia que tanto nos é cara, passa por outros caminhos. Caminhos mais complexos, que comportamentos conjunturais ou de relevância secundária de alguns de nossos vizinhos, que deslizes da diplomacia ou que pedras jogadas pela inclusão ou exclusão de palavras, podem ter ofuscado. Não me vem à memória um debate tão intenso em torno à democracia. Curioso, que a polêmica esteja tão pouco presente nas relações com a China, não mais democrática que a Arábia Saudita.

A reunião de cúpula brasiliense colocou mais uma pedra na geografia desenhada pelo novo paradigma. Uma pedra pequena mas importante para a multipolaridade do mundo. Não elimina nem ameaça o poder do mundo unipolar comandado pelos EUA, mas o torna menos absoluto, sinaliza para a importância de negociações, para o valor do fortalecimento da governança global.

Para a América do Sul, a Cúpula significou a continuidade de um processo lento, assimétrico e conflitivo de formação da identidade regional. A dinâmica de uma presença internacional, que responda ao novo paradigma, iniciada no governo passado, aprofundada, ampliada e dinamizada pelo atual necessita de monitoramento eficiente.

O comércio e os investimentos, temas importantes da agenda, ficaram eclipsados pelas árvores abatidas no caminho. É verdade que 65% das importações são puxadas por países europeus e americanos ¿ mercado que nenhum exportador vai descuidar. Parece que houve pouco negócio, mas... alguém acredita que o milhar de empresários que circulou pelo país faziam turismo? Como negociar com os árabes pede persuasão com tempo, discrição e muita conversação, possivelmente os resultados só aparecerão na próxima Cúpula.