Título: Imigração gera conflito
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 15/05/2005, Internacional, p. A10
A pressão demográfica é o motivo mais citado pelos emigrantes holandeses para justificar a iniciativa de deixar o país. Mas não é o único. Muitos estão dando as costas para ''uma experiência multicultural que deu errado''.
Aberta à imigração e à concessão de asilo a refugiados, há três anos a Holanda passou a temer a violência política gerada pelo debate em torno dos imigrantes. Em 2002, o populista político Pim Fortuyn, defensor de se fechar a porta para os estrangeiros, foi assassinado por um ativista de esquerda. Em novembro do ano passado, foi a vez do cineasta Theo Van Gogh, crítico dos costumes islâmicos, ser esfaqueado por um descendente de marroquinos. Ao crime, seguiram-se furiosas manifestações, inclusive com incêndio de mesquitas e escolas muçulmanas.
Naquele mês, o site do escritório de emigração recebeu 13 mil acessos a mais do que o normal. Harry van Dalen, do Instituto Interdisciplinar Demográfico, conta que uma pesquisa feita em janeiro indicou que 20 mil holandeses tinham certeza que queriam deixar o país e que 250 mil pensavam em fazer o mesmo.
- É um número extraordinariamente alto, não é normal - afirma.
Van Dalen lembra que surinameses e indonésios costumam se integrar bem, mas no geral os estrangeiros deixaram de ser bem vistos, especialmente os marroquinos:
- Cerca de 60% dos holandeses acreditam que há muitos estrangeiros em seu país. O choque de civilizações, principalmente entre cristãos e muçulmanos, acontece nas grandes cidades, como Haia, Amsterdã e Roterdã.
- A situação dos imigrantes marroquinos é a mais delicada - concorda a especialista em migração européia, Joanne van Selm. - Seus nomes aparecem nos jornais, como criminosos. Além disso, é uma comunidade que tende a viver muito junta, sua integração com a sociedade holandesa é menor do que a de outros grupos. A Universidade de Amsterdã, por exemplo, tem bem mais alunos de descendência turca do que marroquina.
De acordo com a pesquisadora, o principal problema está na valorização extrema do multiculturalismo.
- O importante é focar nas semelhanças entre imigrantes e holandeses e não nas diferenças - defende. (S.M.)