Título: Vitória muda a vida de servidora
Autor: Melissa Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 15/05/2005, Brasília, p. D1

A hepatite C mudou a vida da funcionária pública Feliciana Lustosa Castelo Branco, de 49 anos. Quem vê a alegria e a vontade de viver não imagina que ela passou três anos lutando com a hepatite, sofrendo com os efeitos colaterais do tratamento e bastante deprimida. Hoje, com o vírus negativado, ela confidencia que conheceu uma força interior que não imaginava ter. - A hepatite serviu para eu crescer. Aprendi a querer vencer mesmo diante de muita dor e muito sofrimento. Vi muita gente que descobriu a doença tardiamente não resistir e morrer. Mas, quanto mais eu sofria, mais uma força me movia para eu me informar sobre a doença e para descobrir que queria viver muitos outros anos - comemora.

Ela conta que descobriu a hepatite C por acaso quando foi fazer um check-up de rotina. Em seguida, juntamente com o médico, fez uma investigação para verificar como ela tinha adquirido a doença. Analisando os modos de transmissão da doença e a vida de Feliciana, detectaram que ela, provavelmente, foi contaminada ao 19 anos. Quando teve uma aborto espontâneo e recebeu sangue. De acordo com o médico, antes de 1993 não havia controle do sangue doado e ela deve ter recebido sangue contaminado na transfusão.

Como Feliciana já estava com fibrose cística, o tratamento começou rapidamente. Deveria durar seis meses, mas ela teve muitos efeitos colaterais com a medicação.

- Sentia mal-estar, fiquei amarela, tive anemia, a pressão caia várias vezes durante o dia e o cabelo quebrou muito. Não dava para continuar o tratamento - relata a funcionária pública.

Suspendeu o tratamento e sempre fazia exames para controlar a carga viral. Mas a quantidade de vírus não diminuia e, oito meses depois, teve de começar novo tratamento com medicamentos ainda mais fortes.

Para Feliciana, foi o maior teste de vida.

- Parecia que a vida estava me testando para saber se eu queria viver. Eu mal tinha força para levantar da cama. Tinha má circulação, dores nas pernas, moleza no corpo, perda de massa muscular e depressão - afirma Feliciana.

A maratona de sofrimento, como ela define, acabou depois de um ano do segundo tratamento. Todo mês ela fazia três exames e, depois de seis mês de medicação, a carga viral começou a cair. Até que o vírus foi negativado.

- Foi uma vitória. Consegui vencer. Hoje minha vida é normal. Eu até me emociono só de lembrar. Muita gente passar por isso e desanima, cai em depressão. Queria poder passar para essas pessoas a importância de lutar contra essa doença e pela vida. Elas têm de saber que é possível negativar o vírus - diz Feliciana.