Título: Troca de favores se sobrepõe aos programas
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sérgio Pardellas e Sérgio Pra
Fonte: Jornal do Brasil, 16/05/2005, País, p. A2

Toda vez que precisa reorganizar sua base no Congresso, o chefe do Executivo é obrigado a lançar mão de mudanças no primeiro escalão. Ocorreu com todos os presidentes na história recente. Mesmo Fernando Henrique Cardoso, que tinha sua sustentação em quatro grandes partidos, foi obrigado a mudar várias vezes seu gabinete. Com Luiz Inácio Lula da Silva o quadro torna-se ainda pior, pois tem em sua bancada governista um leque muito mais amplo e heterogêneo. Por isso, desde novembro, ele fala em uma reforma ministerial como forma de acomodar as disputas explícitas entre os partidos governistas por verba e cargos.

Na prática, o troca-troca de favores, escancarado diariamente nas páginas de jornais, aos poucos vai se sobrepondo às discussões sobre programas de governo e cumprimento de propostas de campanha.

Analistas e um punhado de políticos sérios afirmam que, como os eleitores votam em nomes, não em partidos, inexiste preocupação com a coerência.

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), embora seja um dos fervorosos defensores da reforma política, é um emblema do atual modelo.

Há 15 anos, Renan Calheiros é freqüentador assíduo da ante-sala do poder. Foi líder do ex-presidente Fernando Collor, aliado de Fernando Henrique Cardoso, e hoje é um dos principais interlocutores do seu partido, o PMDB, junto ao atual inquilino do Palácio do Planalto, o presidente Lula.

- Quando um jogador muda de um time para outro, a torcida lamenta, mas permanece torcendo pelo seu time. Na política, não. O deputado troca de partido e leva com ele a sua torcida, seus eleitores - comparou o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE).

Nem para a oposição a situação é confortável. Pefelistas e tucanos testemunharam um êxodo de correligionários que não estavam dispostos a passar quatro anos no ''deserto da oposição, sem água, sombra e cargos'', como classificou o ex-líder do PSDB, Jutahy Júnior (BA).

Para o líder da minoria, José Carlos Aleluia (BA), acaba ficando indefinido quem é governo ou quem é oposição.

- Os eleitores têm isto em mente, votam assim, escolhem quem será eleito e quem não será. Os políticos é que não percebem nem assumem essas opções - reclamou Aleluia.

O caos é inevitável. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva compôs uma coligação, em primeiro turno, com o PT-PL-PCdoB-PCB-PMN - os dois últimos não elegeram sequer um deputado ou senador. No segundo turno, agregaram-se ao grupo o PSB, o PTB, o PDT e o PPS, além de uma parte do PMDB - a outra parte estava com o tucano José Serra, que indicou a deputada Rita Camata (PMDB-ES) como vice. A esse cozido político incorporou-se, ainda em 2003 o PP, tornando impossível um controle efetivo de quem é ou não aliado.

Atraídos pelos holofotes do poder, deputados começaram o costumeiro e intenso troca-troca partidário. Legendas como o PL, PTB e PP incharam de forma surpreendente, amparados pela ausência de punição aos parlamentares volúveis. O PMDB, aliado de Anthony Garotinho, incorporou oito parlamentares em apenas 15 dias no rastro de uma disputa pela liderança do partido na Câmara que se arrasta até hoje. (PTL, SP e SP).