Título: Rice faz visita surpresa ao governo
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 16/05/2005, Internacional, p. A7

Secretária de Estado pede maior participação de sunitas na comissão encarregada de redigir a nova Constituição

ERBIL, Iraque - A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, fez ontem uma visita surpresa ao Iraque, para demonstrar seu apoio ao governo do primeiro-ministro xiita Ibrahim Al Jaafari, cujos maiores desafios são apaziguar as rivalidades entre as comunidades e combater a insurgência. Ela é o primeiro alto responsável americano a viajar ao Iraque desde a constituição do novo Gabinete, no começo de maio.

- Estamos impressionados com sua liderança - destacou Rice, numa entrevista conjunta com Jaafari, após a reunião entre ambos em Bagdá.

Mas além de apoiar o premier, Rice também mostrou-se ''preocupada'' com a pequena participação da minoria sunita na comissão parlamentar encarregada de redigir a Constituição. Nesta instância, só há dois sunitas, em comparação com os 55 membros da maioria xiita.

- Gostaria de discutir com os dirigentes a composição da comissão e como podem fazer para todos os iraquianos participarem do processo, entre eles os sunitas - enfatizou.

Em resposta, o chefe de governo reconheceu a débil participação dos sunitas na comissão parlamentar encarregada de redigir a Constituição.

- Vamos tentar encontrar os meios de estimular uma maior presença dos sunitas no processo - frisou.

A viagem de Rice começou na cidade curda de Erbil (Norte), onde desembarcou procedente do Qatar em um avião militar C-17, em uma viagem secreta, da qual só tinham conhecimento seus mais próximos colaboradores. De lá, a secretária de Estado seguiu de helicóptero ao feudo de Massud Barzani, região de Salahuddin (350 km ao Norte de Bagdá), onde se encontrou com o líder curdo.

Barzani classificou a visita como um apoio americano aos povos curdos e árabes no caminho para a democracia.

Mais tarde, Rice viajou para a capital para se reunir com o presidente curdo Jalal Talabani e com Jaafari.

- Esperava há algum tempo a oportunidade de realizar esta visita - disse.

A secretária de Estado avaliou que a violência incessante no país, que desde o final de abril deixou pelo menos 400 mortos entre civis e militares, é uma tentativa dos rebeldes de fazer o processo político fracassar e responder à ofensiva lançada pelas forças de segurança contra eles:

- Para derrotá-los, é necessária uma alternativa política.

Entretanto, os EUA ainda parecem priorizar os meios militares à reforma democrática como método para acabar com a insurgência. Por outro lado, Rice confirmou que os Washington e a União Européia apoiariam a realização de uma conferência internacional no mês que vem, para avaliar o tipo de assistência, em especial material e técnica, que se pode oferecer ao Iraque.

Mas o domingo da secretária de Estado foi marcado também pela cotidiana violência no país, inclusive com um duplo atentado suicida em Baquba. Um camicase com um cinturão de explosivos detonou a carga no meio da multidão reunida em frente ao Tribunal de Justiça, pouco antes das 8h, matando cinco iraquianos, quatro deles policiais. Quinze pessoas ficaram feridas. Poucos minutos antes, outro rebelde explodiu seu carro-bomba contra um comboio do governo da província de Diyala. Um funcionário do ministério da Indústria e o motorista morreram, mas o governador, Hamid Al Moulah Jauad, escapou ileso.

Perto de Latifiya (Sul), foram degolados um motorista e dois correspondentes iraquianos de um canal de televisão do Kuwait, que iam de Bagdá para Kerbala.

No fim de semana, a polícia descobriu pelo menos 34 corpos em várias cidades do Iraque. Próximo a Iskandariya, ao Sul de Bagdá, área em que vários cadáveres foram encontrados nos últimos meses, a polícia encontrou mais 11 corpos de homens, crivados de balas. Quatro deles foram decapitados. O ministro da Defesa também informou a descoberta de 10 corpos de soldados estrangulados perto de Ramadi, 110 km a Oeste de Bagdá. Estes homens teriam sido assassinados na quinta-feira. No bairro de Sadr City, em Bagdá, outros 13 homens foram encontrados mortos em uma vala comum, com as mãos amarradas para trás e marcas de no mínimo três tiros na cabeça.