Título: Setor produtivo é pouco atraente
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 16/05/2005, Economia & Negócios, p. A17

Se o mercado de capitais aguçou o apetite dos estrangeiros no primeiro trimestre do ano, o setor produtivo não aumentou sua capacidade de atrair recursos externos na mesma intensidade. O investimento estrangeiro direto acumulado foi de US$ 3,4 bilhões de dólares. Embora superior aos US$ 2,7 bilhões e US$ 1,3 bilhões dos dois primeiros trimestres de 2004, a cifra ficou abaixo dos trimestres seguintes, quando atingiu, respectivamente, US$ 8,3 bi e US$ 5,7 bi.

Para elevar a entrada de investimento produtivo, tornando o país menos vulnerável à fuga de capitais em momentos de crise, só melhorando os indicadores de vulnerabilidade, afirmam os economistas.

- É preciso reduzir a relação dívida/PIB. Enquanto estamos em 50%, no Chile é de 35% e no México de 28%. Também é necessário promover mudanças institucionais. Corrupção, burocracia, marcos regulatórios mal definidos e lei de falências deficiente são fatores que afastam o investimento estrangeiro produtivo - afirma Marcel Pereira, da RC Consultores.

Embora represente uma pequena parte dos recursos que entraram no país, os investimentos em títulos de curto prazo - uma das portas de entrada do capital especulativo mais volátil - somaram US$ 113 milhões, em um resultado que também não se via desde 2000.

A economista Daniela Prates, da Unicamp, vê riscos no ingresso elevado de recursos financeiros no país.

- Empresas e bancos estão captando lá fora se fazerem operações de hedge (proteção no mercado futuro contra oscilações da moeda estrangeira) porque, com a valorização do real, o procedimento ficou caro. Se houver uma desvalorização, temo que não consigam honrar o compromisso, potencializando os efeitos de uma possível crise. Já estamos vendo um ingresso menor de recursos a partir de abril, o que mostra que o apetite do investidor por riscos está diminuindo. A Bolsa de Valores, por exemplo, já começa a fechar negativa. No caso do capital aplicado no curto prazo, defendo a criação de tributos e barreiras para reduzir seu ingresso e evitar uma vulnerabilidade maior no país.

Pereira, da RC Consultores, no entanto, minimiza o risco.

- A entrada de capital torna as contas externas do país positivas. Num momento de crise, para um país que ainda é visto pelo mundo como de risco elevado, isso se torna um colchão de liquidez. - Há um risco porque há um capital de curto prazo considerável, e a mesma onda que o traz o leva com facilidade. Mas, para estar no mercado, temos que conviver com o risco. (S.L.)