Título: MST ataca Palocci e amplia agenda de protestos no DF
Autor: Guilherme Queiroz
Fonte: Jornal do Brasil, 16/05/2005, Brasília, p. D1

Manifestações se estenderão à Embaixada dos EUA e ao Banco Central

A Marcha Nacional da Reforma Agrária armou, ontem, seu segundo acampamento no DF e confirmou que as manifestações não se restringirão à Esplanada dos Ministérios. Com foco central na crítica à política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva, os protestos terão como principais alvos o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Antes, entretanto, caminharão até a Embaixada dos Estados Unidos, como marco inicial dos protestos previstos para os próximos três dias. Desde sexta-feira agregado à marcha, que conta com 12 mil manifestantes, o coordenador do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile, criticou ontem o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Ele o acusou de deslocar o superávit primário do País para bancos privados e de destinar a essa finalidade verbas que poderiam ser aplicadas na reforma agrária. Perguntado se se encontraria com Palocci, Stédile afirmou que só se reúne com o ''chefe'' dele [Lula].

- A natureza da política econômica do governo é perversa e não resolve o problema do povo. Vamos juntar uns 30 economistas nossos e dar um pau no Palocci - brava Stédile, utilizando a ''força da expressão''.

A marcha levará para o Planalto suas reivindicações divididas em 16 pontos, seis dos quais tratando da política econômica do governo federal. O MST reivindica a contratação de 4.500 funcionários para o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a reestruturação do órgão para que cumpra sua função. E pede a destinação de parte dos R$ 60 bilhões anunciados como superávit primário para o assentamento de 430 mil famílias conforme promessa de campanha de Lula, em 2002.

- A reforma agrária está em uma encruzilhada devido à política econômica do governo - conclui Stédile.

O teólogo católico dissidente Leonardo Boff, que havia ministrado uma palestra aos sem-terra no sábado, engrossou o coro contra a política do governo, ao lado do senador petista Eduardo Suplicy PT). Boff afirmou que para a reforma agrária convergem opiniões de diversos setores da sociedade e que o governo não pode virar as costas para uma bandeira de campanha.

- O governo tem muitos constrangimentos na área econômica. É preciso que haja sinais claros da intenção de se fazer a reforma porque esse governo foi eleito para fazer mudanças profundas neste País - critica Boff.