Título: PMDB deve ter candidato próprio
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 16/05/2005, Brasília, p. D3

O trânsito entre o anexo do Palácio do Buriti, onde fica a Agência de Infra-Estrutura e Obras, e o Congresso Nacional é tão freqüente que nem mesmo o dublê de secretário-deputado federal Tadeu Filippelli tem idéia de quantas vezes cruzou este caminho para responder pelas duas cadeiras, nas quais se alterna, e ainda se desdobra com os compromissos políticos da agenda de presidente do PMDB-DF. Técnico elogiado até mesmo por membros da oposição, o engenheiro é um dos aliados mais fiéis do governador Joaquim Roriz. Mas se comenta nos bastidores que seu desempenho em pesquisas eleitorais, até agora fraco, poderá ser fatal na busca do apoio do mais disputado cabo eleitoral do DF. Filippellli não contesta os resultados das pesquisas e garante estar honrado com um quinto lugar. ¿Os quatro que estão na minha frente, ou foram governador, ou já tiveram um mandato majoritário, ou foram no mínimo candidatos duas vezes em candidaturas majoritárias¿, devolve aos adversários. Em entrevista ao JB, ele garante que está na disputa mas ainda não está em campanha. E aproveita para alfinetar os pré-candidatos do PFL, senador Paulo Octávio e deputado federal José Roberto Arruda: ¿não tenho feito shows por todas as cidades, não tenho colocado outdoors por todas as cidades¿. Para Filippelli ¿sacrifícios demais¿ já foram feitos pelo partido: quando se candidatou a deputado federal em 1998, para liberar espaço na Câmara Legislativa, e em 2002, quando deixou de concorrer ao Senado em nome de uma coalizão. Além da confiança de Joaquim Roriz, Filippelli traz a popularidade de quem comanda há seis anos a pasta carro-chefe do GDF, que trata das obras, que lhe renderam nas últimas eleições 167 mil votos, sendo o segundo mais bem votado do DF para a Câmara dos Deputados. Filippelli recebeu o JB em sua residência, no Lago Sul, na última sexta-feira. O número da casa, 15, foi o mesmo pelo qual Roriz concorreu nas últimas eleições e poderá representar, em 2006, uma possível chapa encabeçada por Filippelli na disputa ao Palácio do Buriti. Para dar sorte? ¿Não, uma coincidência, mudei para cá antes de ser deputado¿, riu o peemedebista. - O senhor tem idéia de quantas vezes ocorreram as suas idas e vindas da Agência de Infra-Estrutura e Desenvolvimento Urbano desde 2003?

- Sinceramente, não consigo enumerar. Cada uma foi para um momento diferente. Por exemplo, esta última saída, com retorno na quarta-feira da semana passada, ocorreu porque houve a reunião da Executiva Nacional. Somos 15 membros e o regimento do PMDB exige uma completa desincompatibilização de qualquer cargo executivo no exercício. Na reunião decidiu-se pela prorrogação de mandatos do presidente nacional e dos presidentes regionais. Os das zonais ficarão a critério dos regionais. Em Brasília, vamos discutir a prorrogação. Só nas regionais ficou definido. Os mandatos acabariam no fim deste ano. Mas após 30 de setembro, quando já estará preparado o quadro de candidaturas, uma mudança no comando do partido seria correr riscos. Achei a decisão extremamente salutar, quase aceita por unanimidade. O único voto contrário foi o do senador Ney Suassuna, assim mesmo não com relação ao entendimento da matéria, mas com relação à forma de convocação feita, pois não havia tido tempo de discutir com as bases e preferiu, então, se manifestar pelo não.

- Politicamente, para o senhor a mudança foi boa?

- Sou muito ligado a partido. Respeito muito a estrutura partidária, a filosofia. Tanto que cumpri meus três mandatos pelo mesmo partido. E acho impensável, hoje, mudar. O PMDB é um partido que às vezes mostra algumas divergências, vertentes diferentes, mas isso é salutar pelo seu próprio tamanho. Acho efetivamente democrático. Se eu tiver em desacordo com alguma situação, tenho que trabalhar para modificar aquilo, mas nunca abandonar o partido.

- O senhor é favorável a um alinhamento do PMDB em âmbito nacional com o PT?

- Vejo esse alinhamento com muita preocupação, porque o próprio PMDB, nas últimas eleições, em alguns estados atuou em conjunto com o PT. Temos governadores do PMDB eleitos por causa do apoio do PT. Mas Brasília, em particular, vive uma situação diferente. Aqui, o grande embate se faz entre PMDB e PT. Temos hoje uma posição em nível federal de o PMDB ter candidatura própria, que foi decisão das últimas convenções nacional e local. Candidato nas duas instâncias. Como base de apoio entendo que, antes de tudo, o PMDB tem um compromisso com o país. O que se chama de reformas, as últimas propostas que estão em andamento no Congresso, são ainda originárias do governo anterior e estão rigorosamente compatíveis com o programa defendido pelo PMDB. Então, em tudo aquilo que for coincidente com nosso programa devemos dar apoio ao governo federal. E tudo aquilo que seja em benefício para o país, o PMDB tem obrigação de ter esse compromisso com a sociedade. Antes de o PMDB ter qualquer tipo de participação no governo federal, com cargos, o partido votou mais a favor do governo do que contra. O apoio do PMDB ao governo federal também foi discutido na Executiva Nacional e eu fui a favor, fiz questão de declarar meu voto, mas registrei que isso não poderia se traduzir em pleitear cargos. Aqui no DF temos a tranqüilidade e sobretudo a coerência de poder dizer que não temos um só cargo regional do governo federal. Acho que tem que prevalecer, em termos de política, não é sua posição em determinado momento, é a posição de coerência com a sua história partidária, com a sua história ideológica, com sua história de compromisso com o país. Diversas vezes votei a favor do PT, como na eleição do presidente da Câmara, quando votei a favor do Greenhalgh, com voto aberto. Entre os 513 deputados, acho que fui o único. Houve esse compromisso com Joaquim Roriz porque entendemos que a liturgia política faz com que respeitemos a proporcionalidade partidária. Foi o que reivindicamos na Câmara Legislativa, o que defendemos na Câmara Federal.

- Como o senhor vê a relação do governo federal com o GDF? Alguns petistas reclamam na época que o Cristovam era governador, havia dificuldades com o Planalto. Hoje a situação é inversa...

- Primeiro, o governo Cristovam foi extremamente prestigiado pelo governo federal no que diz respeito a verbas. Com certeza, melhor aquinhoado do que o próprio governo Roriz, haja vista a obra do Metrô, a que Cristovam deu continuidade com verbas federais durante dois anos. Ele não tocou antes porque ficou fazendo sindicância, mas nos anos em que resolveu tocar, o fez com verbas extremamente generosas do governo federal, maiores que as nossas. Segundo: o Cristovam não teve realizações de obras, nenhuma realização efetiva de governo. Não deixou marca nenhuma, a não ser a bolsa escola, que realmente soube copiar muito bem, mas não deixou um elenco de realizações para esta cidade. Temos no elenco de obras nossas um conjunto de restaurantes comunitários a R$ 1. É um programa social. Quando falo em obras, temos um hospital concluído, que é o do Paranoá, um adquirido, um hospital em início... todos os hospitais marcantes de Brasília foram construídos no governo Roriz. Nenhum na época do Cristovam. Nem o que estava iniciado foi concluído por ele. Ele realmente não realizou. Porque, por motivos ideológicos ele não renegociou a dívida com a União. Apenas dois ou três estados brasileiros ficaram impedidos de fazer qualquer tipo de tomada de empréstimo porque não tinham capacidade de endividamento, de pagamento. Cristovam foi extremamente beneficiado durante o governo dele por verbas federais. Terceiro ponto, mais importante: me dê uma emenda de bancada, de Orçamento Geral da União, que tenha sido liberada para o GDF, depois da posse de Lula?

- Então o senhor acha que não há o mesmo tratamento?

- Prefiro dizer que nenhum gesto do GDF representa hostilidade ao governo federal.

- Com o senhor enxerga essa nova crise na bancada governista da Câmara Legislativa?

- Eu entendo que a essência da política é a coerência. O PMDB tem sido rigorosamente coerente com sua história, com o governo, é inegável. Não vejo como questão partidária do PFL. Vejo uma parte do PFL assinando manifesto e se sentindo incomodada com a postura de outra parte do partido. Este bloco independente, ou rebelde, qual seja o nome, se sente, em conversas que tivemos, base do governo e não da oposição. A exigência de que não sejam entendidos como oposição, mas como dissidentes, sempre foi deles. Acho que isso foi um determinado fato esporádico, movido mais por emoção daquele momento, mas entendo que é superável depois de entendimento com o governador

- Na Câmara Legislativa, o PMDB está desfavorecido? O partido tinha um espaço muito maior na primeira metade da legislatura...

- A postura dos deputados do PMDB tem sido irrepreensível e coerente, porque eles estão entendendo esse governo de coalizão. Eles sabem que em alguns aspectos o PMDB teve que se recolher, que diminuir, mas sempre no entendimento maior de governo coalizão. Por isso afirmo essa confiança no equacionamento político, que está sendo muito bem conduzido pelo governador. Por exemplo, a votação sobre o BRB e Corumbá IV. Entendo que ali quem ficou tranqüilo foi o PT, que ficou em plenário, dando quorum para a votação. E continuou em plenário na hora em que os demais membros do PFL chegaram, e complementaram os votos contra. Então, por um lado, eles quiseram mostrar talvez a importância dos votos do PT nesse quadro todo. Esses votos do PT poderiam poderiam ajudar naquele momento um gesto de marcar posição desse grupo independente.

- O senhor acha que essa quantidade de candidatos à sucessão do GDF, pelo menos cinco, buscando o apoio de Roriz, é prejudicial?

- Ter cinco candidatos chega a ser invejável. Claro que vai ter problema. Da mesma forma que nós temos a facilidade de ter cinco candidatos, sabemos que congregando essas forças poderemos ganhar, como na última eleição.

- Ter deflagrado o processo tão cedo pode criar tumulto?

- Para a oposição é obrigação discutir a sucessão, até como forma de levantar o debate político e esvaziar o governo. Para aqueles que se entendem alinhados ao governo, é delicado discutir a sucessão. Sou um secretário de uma agência do governo, tenho coordenação de seis secretarias, como posso abrir uma discussão, a um ano e sete meses do final do mandato do governador do meu partido e permitir que se crie um governo paralelo com a definição do nome da sucessão? Ou que, pior ainda, que se pare o conjunto de realizações desse governo, que tem sido inegável.

- Mas o senhor já foi lançado pré-candidato pelo seu partido...

- O meu partido definiu que terá candidatura própria. Os outros partidos não definiram. Acho que vem muito da postura. Eu não tenho feito shows por todas as cidades, não tenho colocado outdoors por todas as cidades. Não tenho feito efetivamente reuniões de lideranças políticas e comunitárias em todas as partes do DF. Não abri qualquer tipo de escritório político. Não tenho feito campanha.

- É uma pré-candidatura tímida, então...

- Não é pré-candidatura. Fico extremamente honrado e feliz em ter meu nome lembrado. As pessoas falam: mas o Filippelli não decola, tem tantos por cento de intenção de voto. Os quatro que estão na minha frente, ou foram governador, ou já tiveram um mandato majoritário, ou foram no mínimo candidatos duas vezes em candidaturas majoritárias. O primeiro da lista que nunca foi candidato majoritário, que nunca teve um cargo majoritário, sou eu. Na minha equipe, prego o seguinte: se a pesquisa for favorável a nós, vamos questionar e duvidar, e continuar melhorando. Se a pesquisa for desfavorável, vamos levar a sério, encarar como uma advertência. Nunca vou desqualificar uma pesquisa. Ao contrário, sou técnico, tenho formação em engenharia, respeito métodos de pesquisas, sei que são belíssimos indicadores. Também uso pesquisa para trabalhar.

- O senhor aceitaria compor uma chapa como vice?

- Sou ligado a partido, respeito as instâncias partidárias. A posição que eu tenho hoje é que o PMDB deverá ter candidatura própria. E com certeza, a decisão sobre minha candidatura, como nas três eleições que participei, nunca foi decidida isoladamente, sempre foi fruto do partido. Na primeira vez, quando fui escolhido para representar o PMDB como candidato a deputado federal, houve uma decisão em reunião de toda a bancada do PMDB, até com muito risco pra mim. Mas era necessário, para aliviar a eleição para distrital. Saí candidato pela primeira vez a deputado federal participando exatamente contra os maiores nomes: Osório Adriano, Wigberto Tartuce, Chico Vigilante, Jofran Frejat, Paulo Octávio, Maria Abadia, Maria Laura. Todos eram tradicionalmente os grandes candidatos a deputado federal. Nesta primeira vez saí como o segundo mais votado, perdi apenas por 7 mil votos para o Wigão.

- Então, e se na composição for necessário o PMDB vice?

- Não trabalho em tese. O que eu defendo é que o que nos levou à vitória na eleição passada foi um equilíbrio, um entendimento, a humildade. É inegável que se a gente tivesse saído com os partidos separados, teríamos sido derrotados. Outro fato: depois, fui sacrificado pela segunda vez. Na primeira, foi na indicação para federal. Aquela reunião foi terminada com a seguinte frase de um deputado: ''Alguém tinha que ser escolhido para o sacrifício''. Tudo bem, corri risco e fui eleito. Nessa última vez, eu participei de uma reunião onde me foi colocada a necessidade de abrir mão da candidatura de senador para que se pudesse agrupar todas as correntes políticas e todos fossem atendidos numa única chapa. Acho que sacrifícios já foram feitos. Acho que a unidade deve ser costurada em torno de sacrifícios, cada hora de uma determinada forma. Estou dando demonstração do meu desapego, do meu compromisso partidário de que minha candidatura não será, nunca, um fruto solitário. E lembrando sempre que sacrifícios eu já fiz no mínimo duas vezes.

- A quantas andam os trabalhos na agência?

- Três grandes pontos que eu entendo como marcantes. Primeiro, é inquestionável a força de realizações da agência. Segundo, nenhuma obra que foi iniciada por nós ou que foi iniciada em governos anteriores foi abandonada ou não está sendo concluída. Terceiro, num conjunto de mais de 1.500 licitações e contratações, nenhuma, graças a Deus, foi suspensa por qualquer ilegalidade ou irregularidade. Quanto às embargadas, buscamos na Justiça e instâncias competentes, e todas foram concluídas.

- Como o senhor avalia o conflito tributário entre os governos do DF e de Goiás, que são tão parceiros?

- A situação que se passa entre Goiás e o DF se repete no país todo. Na reunião dos governadores do PMDB, quarta-feira passada, todos bateram nesse ponto: que a demora da reforma tributária, na Câmara, aliada à falta de aprofundamento da questão, deixa margem a isso. Está provocando uma disparidade no partilhamento dos tributos recolhidos, ficando muito com o governo federal e pouco com os estados e municípios. Quanto ao DF e Goiás, tenho convicção absoluta de que é questionamento momentâneo. Temos muitos projetos em conjunto.