Título: Em meio a uma crise política, governistas discutem relação
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 17/05/2005, País, p. A4

Para reclamar do Planalto, aliados confirmam almoço sem a presença do PT

Em meio a mais uma crise política, os governistas rebeldes do Planalto confirmaram para hoje às 13h um almoço para desfiar as mágoas contra o Planalto e o governo e demonstrar apoio ao ministro da Articulação Polícia, Aldo Rebelo. Conforme prometido, o PT, partido do presidente da República e maior legenda da bancada governista, vai ficar de fora do encontro, planejado pelo PSB e pelo PCdoB. O PP, que alterna momentos de apoio com os de oposição ao governo, avisou que não vai participar do encontro. - Temos que discutir nossos problemas? Temos. Mas de que adianta discutirmos as nossas crises sem o PT? Ele não é da base? - disse o líder do PP, José Janene (PR).

Tentando esvaziar o encontro de hoje, a articulação do Planalto marcou para amanhã um almoço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) e todos os líderes da Casa, inclusive da oposição. A medida surpreendeu o líder José Múcio Monteiro (PTB-PE).

- Claro que vamos ao almoço de amanhã. Mas era preferível que tivéssemos uma conversa menor com o presidente Lula - resumiu.

Múcio Monteiro, que desde a semana passada confirmou sua presença no encontro com a base rebelde hoje, lembrou que os problemas na relação dos aliados com o Planalto são antigos. Acrescentou que os líderes governistas pediram ao líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) uma conversa particular com o presidente Lula.

- Liguei ontem para Chinaglia, diante do aviso do almoço com o conjunto da Câmara, para indagar se havia alguma mudança em relação ao nosso pleito - declarou Múcio.

Chinaglia disse ao petebista que estava entrando no médico e responderia posteriormente. Quanto ao encontro de hoje, o líder do PTB confirmou que a insatisfação existe e foi reforçada após as declarações do secretário da Gestão e Comunicação Estratégica, ministro Luiz Gushiken, de que a articulação política deveria voltar para as mãos do PT. O cargo hoje é ocupado pelo ministro Aldo Rebelo (PCdoB).

- O cargo de articulação política é como um algodão entre os cristais. Só não dá para um cristal tentar cortar esse algodão - comparou.

Um dos anfitriões do almoço de hoje, deputado Renato Casagrande (PSB-ES), admite que não existe uma pauta fechada para o encontro de hoje.

- Todos os problemas serão elencados durante o encontro - confirmou Casagrande.

A ascendência governista sobre a Câmara será novamente testada hoje com a votação do indicado da Casa para o Tribunal de Contas da União (TCU). Com dois candidatos, José Pimentel (PT-CE) e Osmar Serraglio (PMDB-PR), o governo corre o risco de perder a disputa para o candidato de Severino, o deputado Augusto Nardes (PP-RS). Na mesma sessão, será votada a indicação feita pelo Senado, a de Luiz Otávio (PMDB-PA). O senador sofre forte resistência pelo fato de sofrer acusações de desvio de recursos públicos.

Com Folhapress