Título: MST quer discutir juros com Lula
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 17/05/2005, País, p. A5
Movimento evita criticar presidente e protesta contra política econômica, ''imperialismo'' americano e lentidão da reforma agrária
A Marcha Nacional pela Reforma Agrária - após uma caminhada de 16 dias entre Goiânia e Brasília - já é considerada um movimento vitorioso pelos organizadores. Nas reuniões com 28 ministros do governo Lula ao longo das últimas duas semanas, uma comissão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) conseguiu negociar várias conquistas sociais e econômicas. Hoje, se encontra com o presidente Lula, quando apresentará 16 reivindicações, e planeja discutir temas ''estruturais''. A política de juros e a desvinculação do Incra ao Ministério do Desenvolvimento Agrário estão na pauta do encontro.
O movimento promete reunir 30 mil pessoas hoje na Esplanada dos Ministérios. Sem-terra e simpatizantes da causa vão protestar contra a política econômica, o ''imperialismo'' americano e a lentidão da reforma agrária.
Uma das coordenadoras nacionais do MST, Marina dos Santos, enumerou o que ela considera conquistas da comissão de negociação. Na reunião com o ministro da Educação, Tarso Genro, ficou acertada a construção de 100 escolas de alvenaria nos assentamentos e a ampliação do programa de alfabetização. O Ministério da Saúde prometeu apoio ao projeto de produção de medicamentos com plantas medicinais e garantiu levar programas contra a Aids ao assentados.
No Ministério da Integração, o MST definiu estratégias para desenvolver programas de apoio à criação de agroindústrias. O Ministério do Desenvolvimento Social prometeu ampliar a distribuição de cestas-básicas nos acampamentos. Hoje 220 mil famílias recebem o benefício, mas só quatro vezes ao ano. No Ministério da Cultura, acertou o apoio a programas de incentivo à cultura nos assentamentos.
Para o MST, no entanto, todas as conquistas são ''pontuais'' e não alteram a estrutura da política econômica, o grande gargalo para deslanchar um projeto massivo de reforma agrária. O presidente Lula - que não é alvo dos protestos do MST - recebe uma comissão do movimento no fim da tarde.
- Não temos dúvida de que Lula é nosso amigo. Mas a máquina do Estado entorta para o lado do poder econômico - acredita Marina.
O MST quer tratar com Lula sobre temas estruturais. O movimento defende juros iguais aos dos Estados Unidos. O MST quer ainda vincular o Incra, hoje subordinado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, diretamente ao gabinete de Lula. O movimento defende a criação de nova linha de crédito para financiamentos aos assentados, nos moldes do antigo Programa de Crédito Especial para a Reforma Agrária.
O governo deve anunciar medidas para favorecer a reforma agrária. Há duas semanas, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, confirmou que o governo planeja liberar R$ 10 bilhões para o Pronaf na próxima safra, o que quadruplicaria o volume de recursos liberados anualmente por Fernando Henrique Cardoso.
A programação dos manifestantes hoje começa pela manhã. Uma comissão de 200 sem-terra vai a uma sessão solene no Congresso em homenagem a d. Luciano Mendes. Em seguida, com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, vão pedir a aprovação do referendo contra a venda de armas e de emenda que autoriza a expropriação de terras com trabalho escravo.
Os quase de 15 mil integrantes da marcha deixam o acampamento do Ginásio Nilson Nelson , por volta de meio-dia, para fazer protestos em frente à Embaixada dos EUA, ao lado do Ministério da Fazenda e em frente ao Congresso. Artistas e representantes de sete partidos políticos confirmaram apoio à marcha. Dois ônibus com estudantes da USP chegaram ontem a Brasília.