Título: Mesa tenta ganhar tempo
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/05/2005, Internacional, p. A7

A exigência dos manifestantes não se esgota na nacionalização de recursos e no rompimento dos contratos. As colunas pedem o fechamento do Congresso, a renúncia de Carlos Mesa e a convocação antecipada de novas eleições presidenciais. Os protestos se tornaram violentos quanto um grupo de mineiros em greve atacou o Legislativo a dinamite. A polícia reagiu e, na confusão, ocorrida a 200 metros do gabinete presidencial, cinco pessoas ficaram feridas. Cinco foram presas.

Mesa não deu declarações sobre as novas exigências. Mas o vice-ministro de Coordenação Parlamentar, Carlos Agreda, avisou que o presidente, que não tem representação formal no Congresso, não cogita renunciar. O ministro dos Hidrocarbonetos, Guillermo Torres, pediu calma à população.

Já o ministro da Justiça, Carlos Alarcón, insinuou que por trás das mobilizações dos cocaleros e de outros grupos, estaria o grupo político liderado pelo ex-presidente Gonzalo Sanchés de Lozada, radicado nos Estados Unidos desde sua deposição, em outubro de 2003.

- Acreditamos que existem setores da política tradicional que estão se rearticulando para gerar cenários de convulsão e intranqüilidade social que permitam uma volta ao passado - afirmou.

Um porta-voz do Movimento Nacionalista Revolucionario, o deputado Luis Eduardo Siles, corroborou de certo modo a tese do governo. Siles, que é muito próximo de Sánchez de Losada, disse que ''Mesa está com os dias contados se não tomar uma posição a respeito da Lei de Hidrocarbonetos''.

Tentando baixar a temperatura política no país, o presidente despachou vários negociadores para os principais pontos de bloqueios. Ao mesmo tempo, convocou uma reunião de ministros para discutir os cenários e saídas da crise.

Não está fácil. Além das marchas da oposição, o governo boliviano está às voltas com greves de mineiros, que exigem melhorias setoriais - a manifestação de ontem bloqueou até a passagem de Evo Morales. Além disso, professores da rede pública e todos os médicos igualmente paralisaram as atividades em protesto contra os baixos salários.