Título: Governistas marcam reunião. Sem o PT
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 13/05/2005, País, p. A2

O PT irritou tanto seus aliados que conseguiu ser barrado em um almoço da bancada governista marcado para a próxima semana. Previsto inicialmente para ontem, o encontro tem como objetivo discutir as péssimas relações dos aliados com o PT e o próprio governo, agravada pela campanha aberta e explícita pela demissão do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Na última segunda-feira, o secretário de Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, afirmou que a articulação política tinha que voltar para o PT.

- Eles têm 19 ministérios, querem mais o que? O PT tem que descobrir que, sem os aliados, não teria chegado a lugar nenhum - atacou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).

A situação é tão crítica que, após a reunião com o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, para discutir a reforma tributária, todos os líderes confirmaram o almoço para a próxima semana. A reunião só não aconteceu ontem porque o líder do PP na Câmara, José Janene (PR), não estava em Brasília.

- Os últimos acontecimentos acirraram os atritos entre a bancada, o governo e o PT - resumiu o líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande.

Casagrande não esconde as mágoas dos aliados com o Executivo. Para ele, o Planalto precisa entender que só chegará ao fim do mandato com sucesso com pluralidade partidária.

- O método que alguns setores do PT estão usando de pressionar pela demissão de Aldo Rebelo é emblemático. Não queremos isso, exigimos transparência e respeito .

O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tenta manter a calma em meio ao tiroteio. Ressalta que não é um bom caminho estabelecer um debate paralelo neste momento, excluindo o PT da discussão. Há quem acredite que os aliados querem jogar para a platéia, quando não se movem para defender Aldo.

- Por que eles vêm ao Planalto e, após audiências na Coordenação Política, passam para fazer uma visitinha a Dirceu? Será que não confiam no Aldo? - desafiou um petista.

A situação parece ter saído do controle. Semana passada, os líderes acertaram um modelo para votação da reforma tributária. Quarta-feira, os governadores do PMDB recuaram e o partido anunciou que vota junto com a oposição, aumentando as chances de derrota.

Na disputa por uma vaga no Tribunal de Contas da União, o futuro reserva outro cenário de batalha: Osmar Serraglio (PMDB-PR) e José Pimentel (PT-CE) nem pensam em abrir mão das candidaturas, mesmo sabendo que isto poderá levar à vitória do deputado Augusto Nardes (PP-RS).

Na Esplanada dos Ministério, o clima de rebeldia predomina. O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, está em plena campanha ''recuperar o papel estratégico'' de sua pasta. Ontem, aproveitou o anúncio de um projeto de recuperação da memória dos direitos do trabalhador para reforçar alguns pleitos como a instalação do Conselho do Salário Mínimo e a garantia de um assento para a pasta dentro do Conselho Monetário Nacional. É uma forma diplomática de reclamar por maior poder de decisão dentro do governo, em um ambiente tomado por uma onda de queixas e críticas.

O fogo amigo se tornou comum na Esplanada. Os ministros Ciro Gomes, Luís Gushiken e Gilberto Gil criticaram abertamente o governo.