Título: Reforma política no papel
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 13/05/2005, País, p. A3

Nos debates, muitos consensos. No fim, a certeza de que apesar dos pensamentos convergentes, muito pouco da reforma política sairá do papel a curto prazo. Isso, aliás, foi dito, com todas as letras, pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), ao comentar as intervenções dos presidentes do Senado, da Câmara e do ministro da Coordenação Política, no encerramento do 17º Fórum Nacional, ontem no BNDES. Se, com maior ou menor ênfase, Renan Calheiros, Severino Cavalcanti e Aldo Rebelo defenderam a necessidade da reforma, não faltaram argumentos para justificar a postergação dos ítens principais, como o financiamento público das campanhas e a lista partidária, medidas consideradas fundamentais para combater o caixa dois e fortalecer os partidos.

De concreto, só um tema estranho à agenda original - o fim da verticalização das campanhas - e medidas para evitar o troca-troca de partidos deverão ser implementadas a curto prazo. Todos concordaram que a infidelidade partidária desmoraliza o Legislativo. Severino Cavalcanti forneceu um dado: desde 2002 ocorreram 237 mudanças de partido na Câmara.

Para justificar o fim da verticalização (a determinação de que as alianças partidárias devem ser repetidas em todas as unidades federativas), Renan Calheiros admitiu que o princípio é respeitável, mas ressalvou que a medida não poderia ser aplicada hoje, em razão das peculiaridades da política regional.

Números apresentados pelo presidente do Senado mostram a urgência do combate ao poder econômico nas campanhas eleitorais. Caso sejam considerados só os desembolsos declarados, o custo da eleição no Brasil é comparável ao que se gasta nos Estados Unidos.

- Supõe-se, no entanto, que se gaste de duas a sete vezes mais que os custos declarados. Neste caso, o preço da eleição no país ficam entre R$ 7 e R$ 35 bilhões - revelou.

Apesar dos números, Renan Calheiros não vê como implementar a curto prazo o financiamento público a curto prazo e as listas partidárias (o eleitor passaria a votar no partido e não mais no candidato).

Em sua intervenção, Severino Cavalcanti nem sequer mencionou temas como a lista partidária e o financiamento público das campanhas. Limitou-se a condenar o troca-troca, censurou a verticalização e gastou o restante do tempo para abordar o assunto predileto: o excesso de medidas provisórias.