Título: CPI acha irregularidades no HRT
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 13/05/2005, Brasília, p. D3

Além da falta de controle, hospital de Taguatinga teria feito repasse de remédios ao Santa Juliana, pivô das investigações

Uma semana depois de inspecionarem o Hospital Santa Juliana, onde encontraram uma série de irregularidades, os membros da CPI da Saúde visitaram ontem o Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Os distritais Leonardo Prudente (PFL), Eliana Pedrosa (PFL) e Arlete Sampaio (PT) estiveram na farmácia do hospital para verificar indícios de repasse de medicamentos da rede pública para hospitais particulares. As suspeitas apareceram durante vistoria nos depósitos do Santa Juliana, quando foram encontrados medicamentos dos mesmos laboratórios que fornecem para o GDF. Apesar de o sistema de abastecimento da farmácia pública ser informatizado, o controle sobre empréstimos de remédios é feito no papel. No HRT, os distritais encontraram uma nota na qual o Santa Juliana informa sobre a devolução de cinco unidades de Hemacel (para problemas sangüíneos). No papel rasurado e sem assinatura, datado de 8 de agosto de 2004, a confirmação de recebimento escrita a mão. Para Arlete, relatora da CPI, a precariedade do controle favorece a corrupção.

- Não entendo como ainda não há um sistema de controle on line. Os hospitais públicos estão sendo prejudicados - disse a deputada.

O diretor do HRT, Osmar William, afirmou desconhecer tal recibo. Ele explicou que eventualmente ocorrem empréstimos temporários para a rede privada, que são controlados pela chefia da farmácia. Mas reconheceu que a organização está ''abaixo do nível necessário'', podendo assim haver ''falhas''.

Os parlamentares também conferiram uma denúncia feita a Leonardo Prudente de que uma cirurgia para corrigir uma ruptura no tendão do joelho teria sido suspensa por falta de medicamentos. Segundo Prudente, o atleta Alexandre Gomes de Araújo, 26 anos, esperou dez dias na fila para passar pelo procedimento, que deveria ter acontecido na segunda-feira última. No entanto, a direção do HRT informou ao paciente que não havia prostignina (usado em anestesias), degermante (para assepsia) e nem agulhas para raqui. Ontem, porém, todos os itens foram encontrados.

- Eu não estava aqui na época, voltei hoje (ontem). Vou conversar com as chefias para saber o que aconteceu - disse William, que acompanhou os distritais durante toda a visita.

Alexandre faria a cirurgia no Hospital Regional de Ceilândia, para onde estão sendo transferidas as cirurgias ortopédicas desde que o HRT iniciou reformas, em março. No entanto, o hospital de origem é o responsável por enviar os equipamentos necessários.

A última etapa da inspeção foi o anexo alugado pelo HRT, onde funciona provisoriamente o bloco materno-infantil. Eliana Pedrosa, presidente da CPI, disse que a comissão recebeu denúncias de que o valor cobrado pelo Hospital Anchieta - proprietário do imóvel - está muito acima do valor de mercado: são 3.640 m² por R$ 99 mil mensais (R$ 90 mil pelo prédio e R$ 9 mil pela locação de móveis e equipamentos). O contrato, assinado em 28 de dezembro do ano passado, prevê 30 meses de aluguel, totalizando R$ 2,9 milhões. Os deputados questionam a longa vigência, pois o motivo da locação é a reforma do bloco cirúrgico, prevista para ficar concluída nos próximos quatro meses.