Título: Mais que festa, 13 de maio pode ser dia de luta
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 13/05/2005, Brasília, p. D8

Movimentos negros escolhem data da Abolição para combater o racismo

Há exatos 117 anos - 13 de maio de 1888 - a escravidão foi abolida no Brasil. Na prática, mostram os historiadores, não significou vitória para os negros. Mesmo assim, e por isso mesmo, a data foi instituída pelos movimentos negros como Dia da Luta pela Igualdade Racial. Em Brasília, as comemorações previstas para hoje objetivam aumentar a reflexão sobre a importância do combate ao racismo, à xenofobia e a todas as formas de intolerância aos negros. De acordo com a coordenadora do Movimento Negro Unificado (MMU) no Distrito Federal, Jacira da Silva, o dia 13 de maio é um dia de denúncia do racismo e que serve também para mostrar que foram retiradas dos negros condições de viver, pois, não tiveram, por muito tempo, acesso à educação, saúde e trabalho.

- As relações racistas estão implícitas na sociedade brasileira. A data de hoje é um esforço para combater o racismo, aumentar a inserção do negros com poder de decisão no trabalho e mostrar a alta taxa de mortalidade negra por violência - diz Jacira.

Dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que, em 1976, a população negra (pretos e pardos) correspondia a 39,5% do total da população brasileira e 57,6% deles faziam parte da parcela mais pobre dos brasileiros. Passados 25 anos, em 2001, os negros constituíam 46,1% da população e representavam 69,6% da população pobre do País.

O professor e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília, Nelson Inocêncio, considera que esses dados não traduzem uma casualidade.

- Não adianta fecharmos os olhos e acharmos que é por acaso que os negros são os mais pobres, maioria nos manicômios e presídios e ainda estão em posições subalternas de trabalho. Por isso, temos que usar o 13 de maio como dia de denúncia dessas condições e discussão da consciência negra - afirma o professor.

Comemorações - Na Escola do Parque da Cidade, às 8h30, a bandeira do Brasil será hasteada com o Hino Nacional tocado em ritmo afro. Em seguida, haverá um debate sobre igualdade racial; em seguida, apresentação de danças africanas, abrindo-se a exposição Sombra e Luz. Ao final, será servida feijoada, comida trazida para o País pelos africanos.

Uma audiência pública no Senado discutirá a discriminação e o preconceito. Entidades da sociedade civil e representantes do governo abordarão o crescimento da xenofobia, a discriminação e o preconceito. Assim como, o Estatuto da Igualdade Racial e as manifestações de racismo que surgem na sociedade, como costuma ocorrer hoje na internet.