Título: Blair volta à Downing Street
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Fonte: Jornal do Brasil, 07/05/2005, Internacional, p. A7

Com 355 cadeiras no Parlamento, Partido Trabalhista consegue vitória histórica, mas premier não deve completar mandato

LONDRES - O premier Tony Blair sobreviveu à insatisfação gerada pela guerra no Iraque e garantiu ontem uma histórica terceira vitória dos Trabalhistas. Entretanto, a diminuição de sua base de apoio no Parlamento, 167 deputados para 66, pode frustrar os planos de cumprir o novo mandato por inteiro. Há a possibilidade de que o programa de reformas seja prejudicado, o que aceleraria a passagem de poder para o ministro das Finanças, Gordon Brown.

- O Iraque foi um assunto profundamente polêmico neste país - admitiu o premier, no discurso da vitória, ao retornar à residência oficial de Downing Street. - Ouvi e aprendi. Tenho uma idéia clara sobre o que as pessoas desejam para um terceiro mandato: seguir em frente.

Segundo Blair, seu governo vai se ''concentrar incansavelmente'' em assuntos internos, como imigração e a ordem pública. Mas a novidade foi o anúncio da volta ao Gabinete de David Blunkett, como secretário de Previdência e Trabalho.

No sistema parlamentarista britânico, o líder do partido que conquista o maior número de cadeiras no Parlamento, de 646 assentos, é nomeado pela rainha Elizabeth II chefe do governo. Os trabalhistas conquistaram 355, mais do que os 324 necessários. O partido Conservador obteve 197, os Liberais Democratas, 62, e partidos menores, 13. Os votos de dois distritos ainda não foram apurados.

Os trabalhistas ficaram com apenas 36% dos votos, um recorde negativo para um partido vencedor. Muitos eleitores acusaram Blair de enganá-los sobre a invasão do Iraque, ao dizer que o país possuía armas de destruição em massa, nunca encontradas.

Passado o teste eleitoral do Iraque, o referendo da Constituição Européia, em 2006, torna-se o novo calcanhar de Aquiles do premier. Pesquisas mostram que a maioria dos britânicos é contra a adoção da Carta, um sonho de Blair, que quer colocar Londres no ''centro da Europa''.

- Se for mal, sua autoridade ficará danificada - afirmou o cientista político Wyn Grant, da Warwick University.

E mesmo uma vitória do ''sim'' pode representar renúncia, já que ele teria seus desafios esvaziados. Por isso, poucos analistas acreditam que Blair ficará no poder por mais de dois anos.

- Se os eleitores o virem como um político em fim de carreira, vão apoiar Brown - acredita Grant.

Blair já foi a maior arma eleitoral dos Trabalhistas, mas críticos agora afirmam que se tornou uma ''obrigação'' e não mais uma renovação. Por isso, muitos - inclusive dentro do partido - torcem para que Brown assuma logo o comando.

Famoso por ter alcançado a estabilidade econômica da Grã-Bretanha, o ministro da Economia é visto como alguém mais próximo dos valores originais dos Trabalhistas - muitos esnobados por Blair nos anos 90, quando levou a agremiação mais para o centro, para que se tornasse elegível novamente.

Blair e Brown, antigos rivais dentro do partido, se uniram para promover a reeleição partidária. Mas a aposta, literalmente, é de que a trégua não vai durar. Na casa William Hill, os palpites de que o ministro se torna premier em 2007 estavam em 2/1.