Título: Polícia acusa empresário de corrupção
Autor: Guilherme Queiroz
Fonte: Jornal do Brasil, 07/05/2005, Brasília, p. D3

Pedido indiciamento de proprietário de eletrotécnica que teria pago propina ao ser achacado por esquema de auditores

Mais um empresário citado nos inquéritos que investigam o esquema de propinas liderado por auditores tributários do Fisco brasiliense, deve ser indiciado pelo Ministério Público. A Polícia Civil confirmou, nos depoimentos prestados pelos integrantes da quadrilha, que os proprietários da Panavídeo Ltda, teriam aceitado o achaque, pagando para não terem cobradas dívidas à Receita Tributária do DF. O envolvimento dos donos da eletrotécnica Panavídeo, uma das 16 empresas indiciadas por suposto envolvimento no esquema, foi confirmado, na quinta-feira, pelo contador Antônio Albuquerque dos Santos. Ele contou à polícia que o auditor Sami Kuperchmit, apontado como um dos líderes do bando, teria autuado a empresa em R$ 300 mil. Ele mesmo teria se encarregado de elaborar a defesa dos devedores. Pelo serviço cobrou-se R$ 6 mil. Albuquerque era o contador da Panavídeo.

- Pelos depoimentos, fica configurada a corrupção ativa, cometida pelo dono da Panavídeo. Com esses indícios, nos devemos pedir que também seja indiciado - adianta o titular da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco), delegado Cícero Jairo Monteiro.

Além de Sami, foram interrogados, ontem, a auditora Sônia Maria de Andrade, também apontado como líder do grupo, e Jaime Pereira Sardinha, ex-corregedor da Receita. Sardinha fora apontado, na quinta-feira, como um dos intermediadores de um achaque à Tio Jorge Distribuidora de Produtos Alimentícios Ltda. Segundo a polícia, os auditores teriam autuado a empresa em R$ 20 milhões por irregularidades com o Fisco. Servidor de carreira da Receita, Sardinha teria mediado o perdão da dívida mediante pagamento de propina.

- O recurso recebeu parecer favorável em troca de uma redução significativa dos valores devidos - relata o delegado.

O proprietário da Tio Jorge, Victor Rodrigues da Costa já havia sido indiciado e prestou depoimento, anteontem, à polícia. Ele negou a participação nos crimes e não foi encontrado pela reportagem do JB para comentar o assunto. Nenhum dos quatro donos da Panavídeo também foram encontrados nos telefones de suas empresas.

Ontem, polícia colheu os últimos três depoimentos para o fechamento do inquérito. Sami, Sônia e Sardinha começaram a ser interrogados às 16h e seus depoimentos foram longos. O delegado-chefe da Deco, Cícero Monteiro, prevê que o inquérito instaurado para apurar a participação das 13 pessoas presas pela Operação Tentáculo, em 28 de abril, devem ser encaminhados ao Ministério Público até a terça-feira. Outros 19 inquéritos, instaurados para apurar participação de empresários no esquema, devem ser concluídos em 30 dias.