Título: Ciro Gomes com um pé no PTB
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2004, O país, p. A-3

Emparedado no PPS, partido cada vez mais distante do governo federal, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, pretende começar a decidir o seu futuro político logo após o término das eleições municipais. Embora manifeste publicamente sua ''intenção de continuar no partido'', no qual alcançou pouco mais de 10 milhões de votos (11,9% dos votos válidos) à Presidência da República em 2002, a pessoas mais próximas o próprio ministro tem demonstrado ceticismo quanto à sua permanência, sobretudo depois da posição de independência em relação ao PT adotada pela direção nacional. Inviabilizado no PPS, seriam dois os caminhos possíveis: ingressar no PT, onde tentaria se lançar ao governo do Rio de Janeiro ou Ceará em 2006, se credenciando para disputar novamente a Presidência da República em 2010, ou procurar abrigo em partidos governistas com o objetivo de postular a vaga de vice na chapa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, provável candidato à reeleição em 2006. Atualmente, as legendas que mais se adequariam ao perfil de Ciro seriam o PTB e o PSB. Pela lei eleitoral, Ciro tem até um ano antes das eleições para trocar de partido caso queira concorrer por outra legenda em 2006.

Ontem, o ministro, por intermédio de sua assessoria, disse que ''tudo o que se refere à sua saída do PPS é mera especulação''. Mas, nos últimos meses, telefonemas entre Ciro e a cúpula petebista têm sido corriqueiros. O presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), confirma:

- Já considero o Ciro do partido. Até porque gosto muito dele. Já o convidei umas cem vezes - admitiu Jefferson.

A estratégia do presidente do PTB é robustecer os quadros do partido, numa tentativa de se consolidar como aliado preferencial do governo no Congresso e também com vistas às eleições de 2006.

Dessa forma, o PTB mataria dois coelhos numa tacada só: ganharia o acalentado ministério sem precisar torcer por uma reforma ministerial de Lula no fim do ano e seria reforçado com mais um nome para uma eventual composição com o PT em 2006.

No PPS, a discussão sobre a saída de Ciro ganha cada vez mais corpo, não sendo mais tratada como uma mera hipótese. A militância o acusa de marchar em descompasso com a orientação da direção nacional por uma oposição crítica ao governo federal. Há quem também reclame de um suposto descaso de Ciro, que teria virado as costas para o partido durante as eleições de 2002, preferindo se aliar ao PTB em alguns Estados.

- A situação de Ciro é complicada no partido. Ele mais parece um objeto de Lula nessa tentativa de inchar os partido da base - lamenta o deputado Roberto Freire (PE), presidente nacional do PPS.

Freire nega, no entanto, que esteja trabalhando para expulsá-lo da legenda:

- Não existe isso. Nós montamos uma estrutura para Ciro, demos a ele a oportunidade de se candidatar a presidente. De qualquer forma quem mudou foi ele. As nossas críticas ao governo Lula são as mesmas que o Ciro e nós fazíamos ao governo Fernando Henrique - argumenta o presidente do PPS.