Título: Governistas assinaram pedido
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 19/05/2005, País, p. A2

O pedido de instalação da CPI da propina, assinado por 44 senadores e 222 deputados, contou com a ajuda da bancada governista para ser protocolado. No Senado, 8 dos 44 nomes pertencem à base de apoio ao governo. Sete destes são do PMDB. Na Câmara, a rebeldia contra o Planalto foi maior. 43% (95 deputados) das assinaturas pertencem a partidos governistas. Dezoito são de petistas, que têm uma bancada de 91 deputados. Mais da metade da bancada do PC do B, partido do ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política), assinou o pedido de CPI. O PMDB, que possui 85 deputados, deu 26 assinaturas.

As duas últimas reuniões da bancada petista na Câmara quase terminaram em briga. A cúpula do partido ficou irritada com o fato de deputados do partido terem assinado o pedido de CPI, antes mesmo do assunto ser discutido na bancada. Um dos signatários, o deputado Nazareno Fontelles (PT-PI), reconheceu a preocupação dos governistas nos desvios eleitorais da investigação. Mas defendeu os princípios históricos do PT.

-Defendo a ética que o PT sempre defendeu - resumiu.

O discurso deixou o deputado Professor Luizinho (PT-SP) irritado. Ele acusou Fontelles de estar trabalhando contra o governo. Ontem, Luizinho ainda demonstrava incômodo com o episódio, mas não quis entrar em novas polêmicas.

Na noite de terça, o presidente do PT, José Genoino, chegou a insinuar a possibilidade de cobrar dos petistas que retirassem as assinaturas. Ontem, ao lado do tesoureiro do PT, Delúbio Soares - que participou da reunião por ser integrante da Executiva Nacional - arrefeceu a pressão. Orientou os deputados a não assinarem a CPI, mas não abriu fogo contra aqueles que já apoiaram a investigação.

- Se vamos entrar em guerra, precisamos de todos os soldados - convocou Genoino.

Articuladores próximos ao presidente espantam-se com a falta de disposição de Lula de ouvir conselhos. Durante a reunião com líderes no almoço de terça, Lula chegou a criticar o hegemonia petista na administração pública federal, o que causou mal-estar nos seus correligionários.

- O governo está se deteriorando, dia-a-dia. E o Lula? Está de braços cruzados, só pensando na reeleição - reclamou um petista.

Para o deputado Ivan Valente (PT-SP), com o tipo de aliados escolhidos pelo governo, a sucessão de crises são naturais. Valente não poupa os partidos da coalização governista.

- Hoje o escândalo é com o PTB. Amanhã, será com o PMDB, o PP ou o PL. Essa base não é consistente, não é confiável e não é fiel - enumerou Valente.

Dentro do PT, ninguém ser relator da CPI. Por ser o maior partido da Câmara, poderá caber ao PT a relatoria da comissão mista. Chegou-se a comentar no Congresso que o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP) teria recusado a oferta. Ele nega.

- Como podemos dizer isso se nem sabemos se a CPI será instalada? - indagou João Paulo.