Título: Oposição atropela governo e protocola CPI
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 19/05/2005, País, p. A2

Pedido para investigar propina obteve assinatura de 44 senadores e 222 deputados

A oposição atropelou ontem o governo em um dia de cão para o Executivo. Protocolou, com a assinatura de 44 senadores e 222 deputados, o pedido de instalação de uma CPI Mista para investigar a corrupção nos Correios. PFL e PSDB superaram em muito o número de assinaturas necessárias para a instalação da CPI, para evitar desistências de última hora. A CPI da propina é motivada pela revelação de um suposto esquema de corrupção nos Correios comandado pelo PTB, com o apoio do seu presidente, Roberto Jefferson.

Aturdido, o Planalto ameaça ressuscitar casos antigos, como as privatizações do setor elétrico e de outras empresas estatais durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Apelou também para o discurso de que a CPI é palanque eleitoral. O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), respondeu no mesmo tom.

- Esta é uma CPI dos Correios. A oposição não tem o menor interesse em criar um clima de crise institucional.

Depois do protocolo, o pedido de CPI precisa ser lido durante sessão do Congresso e, em seguida, publicado. Esse ritual pode levar alguns dias e, depois disso, não poderão mais ser retiradas as assinaturas. A partir de então, os líderes partidários serão obrigados a indicar os integrantes da CPI - 15 deputados e 15 senadores, com seus respectivos suplentes. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), solicitou à secretaria do Senado e da Câmara que confiram as assinaturas.

- Senti dos líderes partidários a disposição de indicar os nomes para a CPI.

No início de 2004, no auge do caso Waldomiro Diniz, a oposição também chegou a conseguir assinaturas necessárias para a instalação de uma CPI, na época para investigar os bingos. Acabou não sendo instalada porque os líderes não indicaram os participantes. Esta manobra não pode se repetir neste momento, pois o regimento comum do Congresso obriga que, nestes casos, os presidentes da Câmara e do Senado indiquem por ofício os parlamentares que deverão compor a CPI.

O governo sentiu o golpe e não conseguiu se articular ao longo do dia. O líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), admitiu que até o meio da tarde não havia uma orientação clara do Planalto de como agir. Os governistas entoavam um discurso que as ações do Executivo eram suficientes. Outra estratégia seria abrir fogo contra a oposição, estendendo o leque de investigações para o período das privatizações.

Os líderes partidários tentavam apagar o incêndio como podiam. O líder do PP na Câmara, José Janene (PR), deve trabalhar para que os poucos pepistas a assinarem o requerimento retirem as assinaturas. Admitiu, no entanto, que ficava muito difícil a situação já que o próprio presidente do PTB, Roberto Jefferson, principal citado na conversa gravada entre Maurício Marinho e os lobistas, apoiou a CPI. Foi justamente este argumento que o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro, apresentou a Arlindo Chinaglia, líder do PT, que pediu ajuda, em vão, ao petebista.

- Outros partidos podem até mudar de idéia. O PTB não pode. Não há como pedir para os meus deputados retirarem as assinaturas - reforçou Múcio.