Título: Congresso parado preocupa líderes
Autor: Sérgio Pardellas e Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 19/05/2005, País, p. A3
A paralisia política do Congresso, que impede a aprovação de projetos que interessam ao governo, foi a principal preocupação levantada ontem durante o café da manhã no Palácio do Planalto que reuniu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os líderes de partidos governistas, de oposição e integrantes da Mesa Diretora. Lula apresentou como prioridades a aprovação da reforma tributária e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, demonstrou apoio à reforma política e reconheceu que é importante azeitar as relações entre o Executivo e o Legislativo, que estão sem falar a mesma língua há um certo tempo.
- Nós temos divergências em 20% dos debates e convergência em 80% dos assuntos. Vamos trabalhar por isso - pediu Lula.
O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL) afirmou que governo e oposição sempre conseguem identificar os mesmos problemas, mas acabam enxergando-os sob óticas diferentes. Considerou importante a disposição de Lula em abrir o diálogo com o Congresso como uma forma de equilibrar as forças políticas e alertou que a única maneira de o parlamento reverter a imagem negativa seria voltar a produzir e votar:
- Este impasse é ruim para todos e não apenas por ser um ano pré-eleitoral.
Lula fez questão de elogiar o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Severino que sentou-se ao lado de Lula durante o café, gabou-se de ter levado mais uma vez a oposição para conversar com o Planalto. Lula disse que o presidente da Câmara sofre o mesmo tipo de preconceito que ele, Lula, sofreu durante toda a vida: a acusação de, por conta de sua origem humilde, não ter capacidade para ocupar os cargos que disputou.
A oposição também não quis clima de confronto. Líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), lembrou que votou em Lula em 1989, e fez carreatas ao lado do irmão do presidente, Frei Chico. Na época, ambos filiados ao PCB.
- Ah, foi você que cooptou Frei Chico - brincou Lula.
- Não, presidente, foi ele que me cooptou - devolveu o tucano.
O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), elogiou o esforço de aproximação de Lula:
- A Câmara não pode ficar trancada para sempre.
No café , o presidente Lula também não citou nominalmente o presidente do PTB, Roberto Jefferson, para quem manifestara solidariedade na terça-feira, mas voltou a dizer que ninguém pode ser punido por acusações não comprovadas. Se referindo indiretamente à CPI, argumentou que a oposição sempre quer antecipar o debate eleitoral, mas que o governo não fará isso.