Título: Ministra revê estratégias
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 19/05/2005, Internacional, p. A7

A Petrobras deve reduzir o ritmo de expansão de seus investimentos na Bolívia por conta da promulgação da Lei de Hidrocarbonetos, segundo a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Ela afirmou que até agora não existem indicadores de revisão nos preços do gás natural comprado da Bolívia, definidos por contrato com vigência de 20 anos. Nesses termos, o mercado argentino é que deverá sofrer o maior impacto, por conta da intensa demanda domiciliar e de veículos particulares pelo gás boliviano.

O consumo argentino de gás natural chega até a 120 milhões de metros cúbicos diários. Para efeito de comparação, o pico de consumo brasileiro não passa dos 42 milhões de metros cúbicos por dia.

- Não podemos projetar o impacto da medida aqui da mesma maneira do que é esperado na Argentina, que há 100 anos compra gás boliviano - avalia Dilma. Até o final da semana, a ministra conversará sobre os efeitos da nova lei com os ministros bolivianos José Galindo (equivalente ao ministro da Casa Civil) e Guillermo Torres (Hidrocarbonetos). Nem a Petrobras, nem o governo brasileiro teriam se posicionado sobre a possibilidade de uma arbitragem internacional diante de uma elevação dos tributos, informou Dilma.

A ministra afirmou também que o Brasil vai acelerar, a partir de agora, a consolidação de uma âncora nacional da produção de gás natural. Parte da estratégia é a antecipação da produção do Campo de Mexilhão, maior reserva de gás natural brasileira, na Bacia de Campos (RJ). O início das operações, projetada para 2009, deverá ser antecipada para o primeiro semestre de 2008. Outro item da consolidação da matriz gasífera será a sétima rodada de licitações da Petrobrás, que terá foco no gás natural.

Mas o maior esforço do governo será a ampliação da malha interna de gasodutos, o que envolve três projetos de grande porte. O primeiro é a construção do Gasene, que estenderá 1.135 km de dutos entre Cacimba (ES) e Catu (BA), financiado em parceria com o governo chinês. A obra garantirá a interligação das regiões Sudeste e Nordeste, em um avanço efetivo na distribuição de gás natural no Brasil. A Petrobras pretende concluir as obras do gasoduto em 2006.

As atenções também se voltam para a conclusão da malha das regiões Norte e Nordeste que incluem os gasodutos Coari-Manaus e Urucu-Porto Velho, que garantiriam a substituição quase integral do diesel por gás na geração termelétrica do estado do Amazonas, que consome 90% do ''diesel elétrico'' no país.

- Isso não significa o abandono de projetos na Bolívia. Não é interesse da Petrobras se retirar daquele país em definitivo. O que acontece agora são estudos para o escalonamento ou defasagem de projetos - ressaltou Dilma.

A Petrobras estaria preparando uma avaliação de cada um de seus projetos com a Bolívia sobre o impacto da nova conjuntura. Os maiores são o Pólo Gás-Químico, na fronteira entre os dois países, a construção de um gasoduto no Noroeste da Argentina, com ligação para a termelétrica de Uruguaiana (RS), e a expansão da exploração de petróleo e gás em território boliviano, pela Petrobras. Ao todo, o volume dos investimentos está acima dos US 2 bilhões. Especialistas alertam, no entanto, que o preço do gás natural veicular poderá sofrer reajustes em função de redução de oferta.