Título: Guerrilha diz ter controlado cidade
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/05/2005, Internacional, p. A9

Korasuv iniciaria Estado islâmico. Em visita a Andijan, ONU e jornalistas não puderam falar com civis

KORASUV, Uzbequistão - Um grupo rebelde islâmico diz ter tomado o controle de uma pequena cidade do Uzbequistão e jurou construir um Estado islâmico a partir dali.

O líder dos rebeldes, Bakhtiyor Rakhimov, diz que suas forças controlam Korasuv, cidade de 20 mil habitantes, e estão prontos para dar combate às tropas que forem enviadas para pacificar a área. Um repórter na cidade não viu sinais de representantes do governo central.

- Korasuv está nas mãos do povo. E ele está cansado de escravidão. Construiremos um Estado islâmico de acordo com o Corão - disse Rakhimov, que alega comandar 5 mil homens.

O governo do presidente Islam Karimov fez pouco caso das alegações.

- É pura loucura, tudo está normal por lá - afirmou o ministro uzbeque do Interior, Zakir Almatov.

Também ontem, diplomatas, jornalistas e representantes da ONU visitaram Andijan, onde, segundo ONGs, tropas do governo abriram fogo na sexta-feira passada contra uma multidão, causando centenas de mortes.

O grupo não pôde falar com a população local. Durante o percurso pela praça central não foi visto um só civil e havia patrulhas de policiais e militares a cada 50 metros. Continuam sem funcionar as escolas e creches.

O governo admite 169 mortes, todas de guerrilheiros. Mas organizações humanitárias falaram em mais de 700 mortos, principalmente civis.

O ministro do Interior e guia, general Zakirdzhon Almatov, disse que os guerrilheiros foram responsáveis pelo massacre dos civis, depois de invadirem um presídio, libertarem detentos e dominarem a sede da administração regional em Andijan.

- Eles usaram como escudo mulheres e crianças que haviam molhado com gasolina. Os bandidos fuzilaram dezenas de civis - disse o político.

O ministro afirmou que no Vale de Fergana, onde está Andijan e que compreende Uzbequistão, Tajiquistão e Quirguistão, foram adotadas ''medidas rigorosas de segurança'', mas ''ninguém pode dar garantias'' sobre o pacificação da região.

Os Estados Unidos emitiram uma crítica moderada ao governo do país. Os EUA são parceiros do Uzbequistão, com a presença de uma base militar no país, criada para facilitar as operações de guerra no Afeganistão.

- Gostaríamos de ver um governo mais aberto e receptivo - declarou o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.

Ele insistiu que o povo ''rejeite os que tentam promover a violência''.

O porta-voz do Departamento de Estado, Richard Boucher, afirmou que ''está claro'' que a violência ''começou com um ataque armado'' a uma prisão e outras instalações do governo. Ele manifestou sua preocupação pela fuga de detidos do Movimento Islâmico do Uzbequistão.