Título: Identificação durou algumas horas
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/05/2005, Internacional, p. A12

Artista francês de rua foi reconhecido por parceiro polonês como o jovem gênio desmemoriado na Grã-Bretanha

LONDRES - A pista de um mímico polonês, que trabalha em Roma, provocou euforia ontem entre os britânicos, curiosos para descobrir a identidade do jovem amnésico, encontrado molhado em uma estrada do litoral Sudeste da Inglaterra e que, desde então se refugiou no silêncio. Sua única comunicação com o mundo é pelo piano. Dariusz Dydymski informou à polícia que o jovem, cuja foto viu na imprensa, era ''com 99% de chance'' um músico andarilho francês, que dizia se chamar Steve Villa Masson. O polonês garante ter trabalhado com Steve em Nice, França.

- É um gênio do piano e toca Chopin, Liszt e Bach maravilhosamente. Também é compositor e percorreu toda a Europa, tocando para famílias ricas de Munique e dando aulas particulares - contou Dydymski.

A informação foi passada para a Interpol, que acionou seus escritórios na Grã-Bretanha e França. Policiais franceses conseguiram localizar na Côte d'Azur a irmã de Steve, Julie Villa Massone, que entretanto frustrou a esperança do público em ver o mistério resolvido.

- Não é Steve. Vi meu irmão ontem (terça-feira), aqui em Nice - garantiu a mulher.

O ''homem do piano'', como ficou conhecido, foi encontrado no dia 7 de abril, em uma estrada da ilha de Scheppey, no condado de Kent, elegantemente vestido, como se tivesse acabado de dar um concerto. Estava com a roupa molhada de água do mar, de onde todas as etiquetas tinham sido retiradas. A marca dos sapatos também fora raspada. Ninguém sabe se caiu no mar, se foi empurrado ou se estava em um navio e pulou.

Desde que foi encontrado, o jovem - de 20 a 30 anos, loiro e de 1,80 m de altura - não disse palavra. Mas quando recebeu um papel e um lápis, desenhou um piano de cauda. Desde então, passa horas ao piano, interpretando Tchaikovski e composições próprias, sempre muito melancólicas. Internado na seção psiquiátrica de um hospital de Kent, recebeu um órgão elétrico para praticar. Quando estava no hospital Marítimo de Medway, em Gillingham, ele tocava no órgão da capela.

O caso do jovem músico já despertou a atenção da indústria cinematográfica. A produtora Smart Entertainment já estuda a possibilidade de comprar os direitos da história para fazer um filme.

- O que aconteceu nos faz formular muitas perguntas sobre a fragilidade da mente humana, a natureza da comunicação e a importância ou não da identidade - disse o produtor Bard Dorros, em entrevista ao The Evening Standard.

Desde domingo, o telefone do governo britânico para informações já recebeu mais de 600 ligações. Algumas vindas do Canadá e até da Austrália.