Título: BC insiste e sobe juros pela 9ª vez
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 19/05/2005, Economia & NEgócios, p. A17

Copom eleva taxa básica para 19,75% ao ano, reacendendo críticas do setor produtivo. Palocci sugere meta agressiva de inflação

O Banco Central optou por fazer mais do mesmo, dando continuidade ao processo de aperto monetário iniciado em setembro do ano passado. A taxa básica de juros foi elevada novamente, em 0,25 ponto percentual, para 19,75% ao ano. A decisão foi unânime e sem viés. Esta é a nona elevação consecutiva na taxa, a maior desde setembro de 2003, quando chegou a 20%. Com isto, o Brasil permanece o campeão dos juros reais, cuja taxa já alcança 13,55% ao ano. As semanas pré-Copom foram marcadas por uma forte divisão de opiniões entre os analistas do mercado financeiro. Enquanto uma parte acreditava no fim do ciclo de alta na Selic, outra parcela via motivos para mais uma elevação na taxa.

O economista-chefe do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, considerou acertada a decisão.

- O BC mostra que está preocupado com a inflação no curto prazo e, por enquanto, não dá para afirmar que o ciclo de alta chegou ao fim.

Eram dois os argumentos mais freqüentes em favor da alta: piora nas expectativas para o IPCA de 2005, cuja meta é 5,1% ao ano, e os núcleos (médias em que são descartados itens com grandes variações de preços) da inflação corrente elevados. A inflação corrente, medida por critérios diversos, permanece acima de 7% ao ano, mesmo com a valorização do câmbio e dos sinais de arrefecimento do ritmo de atividade.

Em abril, o IPCA ficou em 0,89% - o mais alto desde meados do ano passado. Isto pode indicar uma maior inércia da inflação, segundo especialistas.

- O Banco Central teme que a inflação corrente alta contamine os preços futuros por inércia - avalia o economista chefe da GAP Asset Management, Alexandre Maia.

A parcela do mercado financeiro que acreditava na manutenção da Selic sustentava seus argumentos lembrando a apreciação cambial registrada desde a reunião anterior, a queda no ritmo de crescimento econômico e também dos preços no atacado. O Índice Geral de Preços-10 (IGP-10), que reflete a pressão dos preços no atacado, teve variação zero em maio, contra 1,17% em abril.

- A verdade é que, para o BC, o que importa são os preços ao consumidor, e não os do atacado, por isto a melhora dos IGPs não pesa tanto - lembra Maia, da GAP. - O BC deve manter a porta aberta tanto para interromper o ciclo de alta quanto para efetuar novos ajustes nas taxas.

Se o mercado procura explicar as razões do Copom para elevar os juros, o setor produtivo reforça as críticas à política monetária.

- A persistir a atual tendência, teremos em breve inversão para decrescimento econômico - criticou Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, comentou que ''a nova alta irá produzir uma desaceleração mais forte na atividade econômica e comprometer todo o esforço exportador''.

Para o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Abram Szajman, as últimas elevações já haviam sido mais do que suficientes para desacelerar a economia e influenciar os preços livres.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também criticou a decisão e defendeu a ampliação do Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão responsável pela definição da política monetária. A proposta será avaliada hoje pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Atualmente, o CMN é formado pelo presidente do Banco Central e pelos ministros da Fazenda e do Planejamento. A CUT defende que o CMN tenha também representantes dos trabalhadores e dos empresários.

Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, antes, portanto, do anúncio do Copom, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, previu que o Banco Central voltará a reduzir a taxa básica de juros até o fim deste ano. Ele também defendeu o estabelecimento de metas de inflação agressivas até 2007. O ministro disse ainda que o CMN não deve reduzir as metas previstas até 2007 dos atuais 4,5% ao ano, mas não quis antecipar sua decisão.

Com agências