Título: Sem-terra voltam de ônibus
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 19/05/2005, Brasília, p. D5

Mais de 300 deles levam militantes do MST para casa

Trezentos ônibus deixaram ontem Brasília com os mais de 12 mil sem-terra que participaram da Marcha Pela Reforma Agrária na terça-feira. Por volta de 15h, os ônibus saíram do estacionamento do Estádio Mané Garrincha rumo a 23 estados brasileiros. Depois de 16 dias de caminhada e mais de 238 Km percorridos, os manifestantes apresentavam cansaço, mas faziam um balanço positivo da marcha. - Além de cumprir os nossos objetivos de mostrar à sociedade que a reforma agrária precisa ser feita, a marcha foi uma confraternização com os companheiros de outros estados - diz Cícero Ribeiro, assentado de São Paulo, já com as malas prontas para enfrentar as mais de 20 horas de viagem de volta.

Jaime Aroeira, da coordenação nacional do MST, também avaliou positivamente a manifestação.

- Nós tínhamos três objetivos a serem atingidos com a marcha: recolocar a reforma agrária na agenda de discussão da sociedade, contestar o modelo econômico vigente e negociar a pauta com o governo federal. Todos foram atingidos, ainda que só sete dos 16 pontos da pauta tenham sido acordados com o governo - explica.

Jaime conta que mais de 25 reuniões foram feitas com membros do governo. Só na manhã de ontem o saldo político da marcha foi acertado: o governo prometeu aos sem-terra, entre outras exigências, assentar 115 mil famílias neste ano e 400 mil até o final de 2006.

Quanto ao tumulto que aconteceu no fim da marcha, quando mais de 30 pessoas ficaram feridas entre manifestantes e policiais militares, o discurso dos sem-terra era homogêneo: os manifestantes teriam respondido a uma provocação dos policiais.

- Fizeram muita publicidade em cima desse conflito. Ninguém saiu seriamente ferido, não é esse o foco da manifestação - disse Jaime.

Sujeira - Enquanto os sem-terra saíam do acampamento, uma equipe de 30 garis tentava limpar as mais de 15 toneladas de lixo deixados pelos manifestantes.

- Toda manifestação é assim, eles protestam e deixam o lixo pra gente limpar. Tem até uma equipe especial só para cuidar de eventos como esse - contou um dos garis.