Título: Roberto Jefferson: troglodita sim, ladrão não
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2005, País, p. A2
Deputado afirma que é honesto e teve seu nome usado indevidamente
Considerado um trator nos tempos em que liderava a tropa de choque do governo de Fernando Collor de Mello no Congresso, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, investiu-se ontem do papel de vítima. Em discurso de 41 minutos proferido de uma das tribunas do plenário da Câmara, o deputado disse que o chefe do Departamento do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, citou seu nome em conversa com dois empresários para vender um prestígio e uma intimidade com políticos que não existem. Na segunda-feira, a mesma análise já havia sido feita pelo líder do PT no Senado, Delcidio Amaral (MS).
- Ele fez colocações ufanistas, chamou para si uma responsabilidade que não tem. Jamais me encontrei para conversar, dentro ou fora dos Correios, sobre negócios com Maurício Marinho. Ele nunca recebeu delegação para pedir nada em meu nome - declarou Jefferson, acrescentando que o funcionário tentou valorizar seu passe no fechamento de um contrato de consultoria com uma empresa.
O presidente do PTB foi apontado por Marinho, em conversas gravadas reveladas pela revista Veja, como sendo chefe de um esquema de cobrança de propina de empresários, para que fossem usadas na distribuição de ''mesadas'' para deputados. Ele negou ser amigo íntimo do funcionário e disse que Marinho exagerou ao descrever a relação entre ambos, para se cacifar junto aos empresários.
De acordo com o deputado, ele também pagou um preço por sua honestidade. Os empresários que aparecem na gravação teriam ficado contrariados com a revogação, pelos Correios, de licitações no valor de R$ 38 milhões. Teriam tentado reverter a decisão em diferentes ocasiões. Uma delas em Belém, capital do Pará. Na última vez, no gabinete de Jefferson em Brasília. Nesta ocasião, teriam ameaçado divulgar a fita na qual Marinho aparece recebendo dinheiro supostamente em nome do parlamentar.
Além de dizer que não faz negócios, o presidente do PTB teria mandado os empresários enfiar a fita em um lugar impublicável. No discurso de defesa, Jefferson também desqualificou Marinho e a reportagem da revista Veja. Afirmou que o diretor financeiro da Transpetro, Álvaro Gaudêncio Neto, não foi indicado pelo PTB. O cargo é da cota do PMDB. Também disse que a revista errou ao cravar que o PTB tem 2 mil cargos na administração federal.
- Se tem não me contaram, nem para a executiva nacional do PTB - declarou Jefferson. Segundo ele, são apenas sete postos de expressão: o Ministério do Turismo, as presidências do IRB e da Eletronorte, a vice-presidência da Caixa Econômica Federal e diretorias da Eletronuclear, BR Distribuidora e Embratur. Todos os cargos foram colocados à disposição do governo, que deve rejeitar a iniciativa, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou solidariedade ao deputado.
Para Jefferson, o episódio demonstra que há preconceito contra ele, um preconceito justo, herdado dos tempos de governo Collor, quando se gabava de andar armado e meter medo nos colegas parlamentares.
- Preferia o olhar de medo ao de rejeição. Mas não sou mais aquele troglodita, melhorei por dentro e por fora. Quem canta, reza duas vezes - afirmou Jefferson, referindo-se às aulas de canto clássico que substituíram, em seus momentos de lazer, a prática de tiro ao alvo.
O que não mudou, conforme o presidente do PTB, é sua honestidade:
- Tenho fama de troglodita mas nunca tive fama de ladrão - proclamou.
Citou seu patrimônio pessoal, hoje composto por uma casa em Petrópolis, avaliada em R$ 500 mil e por um escritório de R$ 100 mil no Rio de Janeiro. Bens que seriam compatíveis com os vencimentos acumulados ao longo de seis mandatos eletivos.