Título: Marcha dos sem-terra termina em pancadaria
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2005, País, p. A4
Conflito entre policiais e manifestantes deixa feridos dos dois lados
A Marcha Nacional pela Reforma Agrária - promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) - terminou ontem em pancadaria entre os manifestantes e policiais militares de Brasília, na frente ao Congresso. Vários sem-terra e policiais apresentavam ferimentos. Dois sem-terra saíram desmaiados para o hospital. A confusão entre policiais e sem-terra começou em frente ao Palácio do Planalto. Ao passar em frente ao palácio, o grupo de manifestantes que estava na frente foi impedido pela PM de continuar a marcha, por suposta mudança de rota. Os sem-terra furaram o cordão da polícia à força e passaram na pista em frente ao palácio. Houve muito empurra-empurra e os ânimos ficaram exaltados entre alguns policiais e manifestantes.
Depois de passarem pelo palácio, os sem-terra foram para a frente do Ministério da Fazenda, onde os organizadores da Marcha pediram uma grande vaia para a PM de Brasília.
Já no fim da tarde, os sem-terra desceram para o Congresso. O helicóptero da PM de Brasília começou a fazer vôos rasantes sobre os sem-terra, que estavam concentrados ao lado do lago artificial, irritando vários manifestantes.
Um grupo de 12 policiais militares, ao lado da rampa do Congresso, se infiltrou no meio dos sem-terra. Começou uma troca de tapas entre o grupo de policiais e manifestantes. Em seguida, os policiais que estavam na lateral do Congresso começaram a descer para acudir os colegas que estavam em desvantagem na briga.
Os sem-terra começaram a jogar pedaços de pau, cocos e até chinelos nos policiais. Muitos sem-terra também jogavam garrafas com água nos policiais. A cavalaria da PM entrou em cena e invadiu a área onde estavam os sem-terra.
O acampado Djalma Matheus levou uma pancada de cassetete na orelha e o ferimento ficou sangrando, sujando sua blusa branca. Djalma é do acampamento de Coqueiro do Sul (RS). Ele conta que só se lembra do momento em que levou a pancada na cabeça, de um policial montado a cavalo.
- Não sei como começou a confusão - disse Djalma.
As quatro ambulâncias que acompanhavam a marcha sumiram na hora da pancadaria. Cinco sem-terra foram socorridos por ambulâncias do Corpo de Bombeiros. Um deles estava estirado no chão, com dores na cabeça. Um oficial da PM ficou com a boca sangrando.
Vários parlamentares negociaram uma trégua entre os militantes do MST e a PM, entre eles o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), que pedia a todo o momento que a polícia se afastasse dos sem-terra. Os próprios manifestantes criaram um cordão de isolamento com a polícia, mas muitos sem-terra continuaram jogando pedaços de pau nos policiais. O conflito durou quase meia-hora.
A coordenação nacional do MST informou que 10 sem-terra ficaram feridos. De acordo com a PM quatro policiais foram socorridos, um deles com o braço quebrado e outro com ferimento no tórax. Um dos coordenadores nacionais do MST, Wilson Santin, repudiou o que chamou de ''ação combinada'' da Polícia Militar para agredir os sem-terra.
Antes da pancadaria, os manifestantes passaram em frente à Embaixada dos Estados Unidos, onde jogaram lixo para protestar contra ''a arrogância, o individualismo e o consumismo''. Eles queimaram a bandeira americana. Com três trios elétricos e um carro de som, o MST criticou a política econômica do governo Lula.