Título: Votação na Flórida começa mal
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2004, Internacional, p. A-7

Computadores não funcionam, cédulas incompletas são distribuídas e falta comunicação para checar registro de eleitores

Para evitar a controversa contagem de votos da eleição passada, quando coube à Flórida decidir quem seria o próximo presidente dos EUA, milhares de pessoas foram às urnas ontem no estado, no primeiro dia de votação antecipada. No entanto, já nas primeiras horas, problemas foram registrados em vários condados.

No condado de Orange, no centro, os computadores deixaram de funcionar durante 10 minutos após o início da votação, informou Margaret Dunn, do Departamento de Eleições, acrescentando que um erro na conexão com a Internet pode ter causado o problema.

Em Broward, seções tiveram dificuldades para conectar os laptops usados para confirmar o registro do eleitor com o escritório do supervisor das eleições. Para remediar, Jenny Nash, da Secretaria de Estado da Flórida, afirmou que funcionários utilizaram listas impressas com os dados dos eleitores e se comunicaram com os respectivos funcionários para confirmar a informação.

As demoras fizeram com que muitos eleitores deixassem as filas e decidissem voltar outro dia para votar.

- O processo melhorou bastante, mas isso não significa que tudo será perfeito - disse Seth Kaplan, porta-voz do Departamento de Eleições de Miami-Dade, onde houve graves problemas na eleição presidencial de 2000.

Em Miami-Dade, 8 mil trabalham no processo, e foram disponibilizadas 7.200 urnas eletrônicas.

- Há para esta eleição 1.059.009 eleitores registrados, o número mais alto na história do condado, algo que nunca vimos antes - revelou Kaplan.

Há alguns dias, autoridades eleitorais enviaram um modelo da cédula e um guia em inglês, espanhol e crioulo - idioma falado pela comunidade haitiana - com informações sobre como votar.

A votação antecipada é parte das reformas implementadas após o desastre eleitoral de 2000, quando a Suprema Corte interveio para decidir quem seria o presidente dos EUA, depois de 36 dias de uma controversa recontagem na Flórida.

Em todo o estado, 10 milhões estão registrados e as autoridades eleitorais esperam que a maioria deles vote antes de 2 de novembro, para agilizar o processo e evitar longas filas. Mas críticos alertam para o aumento da possibilidade de fraude.

- O importante é votar. Preferi evitar a confusão do dia da eleição - afirmou o professor Steve Perez, que revelou ter dado um voto de ''protesto'' ao independente Ralph Nader.

- Em 2000 foi uma vergonha, a Flórida parecia terceiro-mundo. Quis votar antes para garantir que meu voto será contado - disse uma eleitora.

Alguns grupos fizeram apelo aos eleitores para que peçam cédulas de voto à distância, que são em papel, temendo o mau funcionamento das urnas eletrônicas - utilizadas pela primeira vez em larga escala no estado. Na teoria, os eleitores da Flórida poderiam escolher qual método preferiam usar.

A deputada republicana Shelley Vana, no entanto, denunciou ter recebido uma cédula incompleta - com só uma das duas folhas necessárias - no Condado de Palm Beach. Segundo Vana, os funcionários se mostraram indiferentes quando ela apontou o problema.

- O Escritório de Supervisão Eleitoral não demonstrou qualquer preocupação. Este não é um bom começo. Se há cédulas incompletas, duvido que tenha sido a única a receber.

Arkansas, Colorado e Texas - onde já votaram os pais de Bush - também iniciaram ontem a votação antecipada.

No final de semana, Bush e John Kerry pediram a simpatizantes que não esperem até novembro para votar e que estejam conscientes da importância da Flórida nas eleições.

Segundo as pesquisas, Bush tem pequena vantagem sobre Kerry no estado, mas o aumento da participação - já que nos EUA o voto não é obrigatório - pode acabar inclinando a balança para o lado democrata.

Em duros ataques ontem ao ex-rival, o democrata Al Gore afirmou que o maior pecado de Bush é ''amar o poder'':

- A maior parte das vezes que ele abandona análises baseadas em fatos tem mais a ver com uma ideologia de extrema-direita do que com a Bíblia.

Duas pesquisas publicadas ontem indicam que Bush e Kerry estão novamente empatados: na enquete da Universidade George Washington, o presidente tem 44% das intenções, contra 43% do rival, o que dá empate técnico. Na sondagem do instituto Zogby, os dois têm exatamente 45% cada.