Título: Líder disparado no ranking de juros
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2005, Economia & Negócio, p. A17

A reunião de hoje do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) não vai mudar a liderança do ranking dos países com maior taxa de juros reais do mundo. O Brasil ocupa o primeiro posto, com 13,3% ao ano, seguido de longe pela Turquia, com 6,6% anuais. Para chegar ao patamar ocupado pelos turcos, o BC deveria baixar os juros para 12,4% na reunião de hoje, levando em conta uma inflação de 5,46% em 12 meses.

Para Alex Agostini, economista-chefe da GRC Visão, no entanto, a postura do Copom deve ser a oposta. Ele aposta em uma elevação de 0,25 ponto percentual hoje, para 19,75% ao ano.

- A postura do Banco Central é inflexível. No melhor dos cenários, a taxa sobe esta semana e permanece estável até agosto - disse.

Agostini critica a inflexibilidade do Copom e afirma que o maior efeito direto do arrocho monetário é a expressiva alta da dívida pública do país. Para ele, o BC deveria analisar outros fatores além da meta de inflação - atualmente em 5,1%.

- Aqui ainda se acredita no fantasma da memória inflacionária do início dos anos 90, o que é besteira, pois a inflação só cresce com renda alta do consumidor - afirma.

Agostini lembra ainda que o efeito prático da política de juros altos sobre os preços é praticamente nulo. Segundo ele, no primeiro quadrimestre do ano passado, quando os juros pararam de cair, a inflação acumulada pelo IPCA foi de 2,23%, enquanto de janeiro a abril deste ano, num cenário de seguidas elevações da Selic, a inflação foi de 2,64%.

- As principais influências do aumento de preços este ano são os preços administrados e o choque de oferta causado pela estiagem no Sul do país - atesta, afirmando que o aperto dos juros não faz a inflação convergir para o centro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

No primeiro trimestre, os administrados, que não sofrem influência da política monetária, acumulam alta de 2%, enquanto os preços livres oscilaram 1,7%.

- O sistema e metas não foi adaptado à realidade brasileira, que é de um país com grande número de empresas privadas com tarifas indexadas - conclui Agostini.