Título: Um crédito para o consumidor
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2005, Economia & Negócio, p. A17
Palocci admite pressão dos empréstimos com desconto em folha, mas afirma que o governo não tentará conter seu avanço
No primeiro dia da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), em que será avaliada a manutenção ou variação da taxa básica de juros - atualmente em 19,5% ao ano - o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, admitiu ontem que os empréstimos com desconto direto em folha de pagamento - o chamado crédito consignado - pressionam a inflação e, conseqüentemente, a elevação da Selic. Mas, segundo ele, o efeito do crédito consignado sobre a inflação e a política de juros é de curto prazo e que, por isso, não criará regras para contê-lo.
- Fizemos uma reforma do crédito. Isso tem algum nível de pressão na política monetária? No curto prazo, tem - afirmou o ministro, durante um fórum sobre Portugal promovido pela Fundação Luso-Brasileira em São Paulo.
Palocci afirmou, no entanto, que é um equívoco pensar que ''a melhoria do crédito prejudica fundamentos'' econômicos. E que não pensa em criar medidas com o objetivo de conter o consumo e aliviar a pressão inflacionária.
- No médio e longo prazo, o crédito é benéfico. A melhoria do crédito é uma conquista estrutural do país e não pode ser deixada de lado por causa de pressões temporárias. Não tem efetividade uma política econômica que não olha lá na frente para uma vida melhor para a família brasileira.
De acordo com o ministro, foi o trabalhador que conseguiu negociar com os bancos taxas reduzidas de juros no crédito consignado.
- Eu vou dizer que isso está atrapalhando o controle da inflação? Quero um Brasil em que esse trabalhador possa amanhã tomar um empréstimo por um quinto dos juros.
Ao oferecer taxas menores por contar com pagamento certo na folha de pagamento, as instituições financeiras viram o crédito consignado disparar no país. A facilidade manteve o consumo alto, o que pressiona a inflação, mesmo em um ambiente de alta de juros.
Paralelamente, o Banco Central elevou os juros básicos de 16% em setembro para os atuais 19,5% ao ano, alegando pressões inflacionárias.
Já a pressão inflacionária vinda dos gastos públicos só será arrefecida daqui a alguns anos, segundo Palocci. Ele disse que o problema não será resolvido rapidamente.
- Isso não é uma tarefa exclusiva do governo, e, sim, de toda a sociedade - disse o ministro, referindo-se aos compromissos fiscais de longo prazo. Neste ano, o governo estabeleceu na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) percentuais para as despesas e receitas como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) para os próximos três anos.
Para Palocci, a consolidação do esforço fiscal reduzirá a vulnerabilidade do país expressa em indicadores como a relação entre dívida e PIB.
- O Brasil pode, se a sociedade assim o quiser, ter um equilíbrio por mais dez anos.
Com agências