Título: Angra III - Decisão Já
Autor: Wagner Granja Victer (*)
Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2005, Economia & Negócios / Além do Fato, p. A18

Os motivos para a implantação imediata da Usina Nuclear Angra III são evidentes sob diversos aspectos. Fora o aumento na geração de energia elétrica, que beneficiará todo o sistema elétrico interligado das regiões Sudeste e Centro-Oeste, contribuindo para a diversificação de nossa matriz, a construção de Angra III irá resultar em diversos benefícios econômicos para o Estado do Rio de Janeiro e para todo o País. Dentre estes benefícios destacam-se os cerca de 6 mil novos postos de trabalhos que serão criados na região sul do estado e a consolidação tecnológica, portanto estratégica, do domínio de todo o ciclo de geração nuclear no País. Na linha de diversificação da matriz energética, vale ressaltar que diversos países desenvolvidos, como França (77%), Espanha (34%), Inglaterra (27%), Alemanha (29%) e Japão (31%), Estados Unidos (21%), têm, percentualmente, cerca de cinco vezes mais geração nuclear do que o Brasil. Afinal, nosso país, contando com as três usinas em funcionamento, terá pouco mais de 4,5% de sua matriz baseada na energia nuclear.

Quanto ao ciclo nuclear de abastecimento de matéria-prima para a usina, o Brasil possui grandes reservas de urânio já em extração, em Caetité, na Bahia. Além disso, o País tem cobiçada capacitação para a produção do combustível necessário nas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende, Rio de Janeiro, que atualmente é objeto de tentativas condenáveis de ¿fiscalização¿ da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), sob forte pressão americana, e que só ganhará escala econômica com a entrada em operação de Angra III, demonstrando o caráter estratégico deste empreendimento.

Outro aspecto importante, com reflexos positivos para o mercado consumidor de energia elétrica, é que estas usinas são uma fonte de geração de energia de base térmica sem o ¿impacto cambial tarifário¿ historicamente imposto pelo gás importado da Bolívia. Vale destacar que somos contra a continuação, neste momento, do antigo programa brasileiro de geração elétrica nuclear, com construção de novas Usinas que devem ser temporariamente suspensas com a implantação de Angra III. Não construir a usina de Angra III, no entanto, literalmente se transformará no ato de ¿jogar dinheiro fora¿ mais marcante da história recente de nosso País, pois já existem cerca de US$ 750 milhões em equipamentos comprados e mantidos há mais de uma década representando custos anuais da ordem de US$ 20 milhões, que irão para o ¿lixo¿ com a não execução do projeto.

Vale lembrar que os custos complementares da usina, cerca de US$ 1,8 bilhão, foram auditados por tradicionais empresas internacionais como Iberdrola (Espanha) e EDF (França). Além disso, os investimentos complementares, serão feitos em sua maioria em Reais, utilizando a engenharia e indústria de base brasileira, que ainda está mobilizada em virtude do término recente de Angra II, uma cópia quase fiel de Angra III e que funcionará como uma maquete de tamanho real, reduzindo, por isso, os tradicionais riscos de construção normalmente existentes em empreendimentos deste tipo.

Temos em Angra III a oportunidade de gerar 1350 MW de energia de base térmica, que se fossem produzidas com gás natural consumiriam cerca de 7 milhões de m3/gás por dia, volume superior a 20% do que é atualmente importado da Bolívia.

Por essa razão é que o Governo do Estado do Rio de Janeiro, desde sua gestão anterior e agora, com a Governadora Rosinha Garotinho, tem se colocado amplamente favorável à implantação de Angra III, tendo recentemente manifestado ao Ministro José Dirceu sua posição, visando a decisão no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que temos a certeza que será positiva.

* Secretário de Estado de Energia, da Indústria Naval e do Petróleo e Diretor da Região Sudeste do Fórum Nacional de Secretários de Energia.