Título: Putin declara apoio a Bush
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2004, Internacional, p. A-8

Presidente quebra formalidades e diz que vitória de Kerry ''daria impulso'' ao terror

O presidente russo, Vladimir Putin, declarou ontem que uma derrota de George Bush nas eleições de 2 de novembro seria uma vitória para os terroristas, apoiando abertamente o candidato da Casa Branca à reeleição, contra o democrata John Kerry. Segundo o presidente russo, a derrota de Bush ''daria um impulso a mais às organizações terroristas e permitiria que o terror fosse intensificado em diferentes regiões do mundo''.

Declarações de apoio a candidatos em eleições de outros países não são comuns na diplomacia internacional, dado que um resultado indesejado pode gerar uma animosidade entre o governo que se manifestou e o presidente eleito que, durante a campanha, foi preterido.

Putin disse que o ''objetivo dos terroristas no Iraque é impedir'' que Bush continue na Casa Branca.

- Qualquer observador atento compreende que os ataques das organizações terroristas internacionais no Iraque, nas atuais circunstâncias, não têm como alvo a coalizão internacional, mas o presidente Bush - afirmou Putin, durante uma visita ao Tajiquistão. - Os terroristas internacionais pretendem causar o máximo de dano e impedir sua reeleição. Se conseguirem, comemorarão uma vitória tática sobre os Estados Unidos e a coalizão - completou.

No entanto, o presidente russo afirmou que mantém a posição que discorda de Bush sobre a invasão do Iraque. Quando a Casa Branca, no ano passado, anunciou as intenções de derrubar Saddam Hussein do poder, o Kremlin esteve ao lado de Paris e Berlim contra os planos de Washington.

- Nossa visão e a do presidente em relação a esta questão são diferentes - disse Putin, que se negou a nomear aos jornalistas qual o candidato preferido do Kremlin nas eleições de 2 de novembro.

- Temos que estar prontos para qualquer resultado. Respeitaremos qualquer decisão que o povo americano tomar e trabalharemos com o presidente que for eleito - afirmou, voltando à diplomacia tradicional.

Segundo analistas, Moscou tem uma preferência clara pela reeleição de Bush em detrimento da vitória de John Kerry. Isso porque o republicano é conhecido do Kremlin, tem boas relações com Putin e a enérgica política do americano, em especial quando o assunto é terrorismo, dá uma boa margem de manobra para Moscou lidar com os problemas na Chechênia.

Fontes próximas ao Kremlin lembram ainda que as relações com os governos democratas, como o de Jimmy Carter (1977-1981) e Bill Clinton (1993-2001), não foram fáceis para o governo russo. Pesa também o fato de Kerry criticar duramente a forma como Putin conduz o governo.

- Ele controla agora todas as estações de televisão. A oposição está presa. Liberdade? Não há na Rússia neste momento - disse recentemente o candidato democrata.

Bush, por sua vez, refere-se ao russo como ''Vladimir'' e diz que os dois têm uma ''boa relação'', que permite um diálogo melhor entre os dois países.