Título: Museus do DF dividem os artistas
Autor: Paula Porto e Danyella Proença
Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2005, Brasília, p. D8

No Dia Internacional dos Museus, que se comemora hoje, artistas locais reclamam mais espaço no Distrito Federal

Um circuito viciado, repleto de falta de transparência na seleção de artistas plásticos, com poder excessivo de curadores e sem espaços para todos os estilos de produção. Esta é a visão do artista plástico Fernando Barreto, com relação aos museus da capital federal. Hoje, no Dia Internacional dos Museus, Fernando protesta: ''não há o que comemorar!''. - Apesar da cidade ter uma série de espaços para a realização de exposições, faltam lugares para a exibição, criação e fomento da arte. O artista aqui não é uma prioridade. O GDF prefere gastar sua verba com artistas de fora, enquanto que os daqui ficam esquecidos. Há uma série de entraves, o que torna o circuito cada vez mais viciado. E quem faz a seleção para as exposições parece não entender nada de arte! Quando, finalmente somos privilegiados, parece que a Secretaria de Cultura está nos fazendo um favor. Imagino quando for inaugurado o Museu Nacional... os artistas locais não passarão nem perto - reclama Barreto, de 74 anos, 50 deles dedicados às artes visuais.

Para o artista - que já foi professor do departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB) e dirigiu o Instituto de Arte de Brasília - a inexistência em Brasília uma filosofia cultural é o que mantém os pintores longe dos museus da cidade. A reversão deste quadro, conforme ele, só seria possível com a criação de núcleos, conselhos ou organizações de artistas com poder de atuação na política pública.

- Há uma crença generalizada de que o artista plástico tem uma relação mais individual com o trabalho e esse seria um dos motivos que mantêm incipiente a organização dos artistas , mas isso não impede ações que invistam em interesses coletivos - afirma.

Barreto ainda aponta a necessidade de uma representação das artes visuais no Ministério da Cultura, com uma proposta de determinação de cotas reais - como destaca - de orçamento destinado à cultura, incluindo a renúncia fiscal para diferentes modalidades de artes, ''a fim de garantir recursos mínimos para as artes plásticas''.

- Há quem diga que, devido à carência de setores muito mais urgentes, como saúde, educação e segurança, investimentos na cultura não devem ser prioridade de governo. Mas será que as pessoas não percebem que cultura é educação? - questiona.

De acordo com a curadora Cristiane Tejo, Brasília peca por não ter um órgão que mapeie sua produção artística. No entanto, o mais grave, segundo a curadora, é a ''falta de comprometimento da Secretaria de Cultura com a manutenção dos espaços''.

- Não ter um banco de dados sobre os artistas locais é um erro grave. Agora, deixar seus museus ao Deus dará é inadmissível em se tratando da capital do País. Além disso, falta uma política pública consistente e contínua, por exemplo, na aquisição de obras para a ampliação do acervo público. Sem contar que no DF não há um programa sequer que incentive doações particulares e a prática do mecenato - conta.

Milton Ribeiro, artista plástico radicado há 38 em Brasília, afirma que falta ainda uma elaboração de um pecúlio para artistas da terceira idade.

Para Glênio Lima, os artistas plásticos precisam entender que os ''museus são destinados para artistas consagrados''.

- Há sim uma valorização dos artistas da cidade, o que falta é humildade dos artistas. Talvez a culpa dos espaços dos museus serem restritos é do próprio artista - diz.

Toninho de Souza, o pintor melantucanarista, conhecido por suas coloridas imagens de melancias, tucanos e araras, conta que as dificuldades entradas na cidade não chegam nem perto dos entraves do eixo Rio-São Paulo.

- As curadorias destes museus são fechadas, radicais. Só os artistas com reconhecimento nacional ou com um grande ''quem indica'' conseguem ter êxito em exposições - conclui.