Título: Governistas tentam retirar assinaturas
Autor: Leila Youssef
Fonte: Jornal do Brasil, 20/05/2005, País, p. A3

O Planalto resolveu abrir guerra contra a CPI dos Correios e mobilizar a sua bancada para retirar as assinaturas que permitem a instalação da Comissão, marcada para a próxima quarta. Pressionado pelo líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), quatro deputados da legenda retiraram suas assinaturas - Inaldo Leitão (PB), Hamilton Casara (RO), Wellington Roberto (PB) e Wellington Fagundes (MT), juntando-se ao deputado Vicentinho (PT-SP). Outros dois - Inácio Arruda (PCdoB-CE) e João Paulo Gomes da Silva (MG) teriam retirado, mas voltado atrás. A Mesa do Senado, contudo, confirmava aos senadores de oposição que sete deputados haviam desistido, reduzindo o número de assinaturas para 213. No Senado, estariam mantidos os 49 senadores. O governo corre contra o tempo, pois o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) comunicou, em plenário, o acerto com o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL): na próxima quarta, véspera do feriado de Corpus Christi, o Congresso Nacional vai se reunir para que seja lido o pedido de criação da CPI.

- A Mesa não criará obstáculos para que se esclareça a verdade - afirmou Severino.

Nos bastidores, contudo, Severino trabalha para que a CPI não seja instalada. Ele manifestou ao líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a preocupação de que a Comissão paralise os trabalhos da Casa. No plenário, Severino pediu aos deputados da esquerda petista que retirassem suas assinaturas, alegando que a CPI será uma tragédia para todos, uma confusão enorme.

- O PP, que é muito menos governo do que vocês, tem dez assinaturas. Vocês têm 18. Não posso pedir para o PP tirar as assinaturas enquanto o nome de vocês estiver na lista - disse Severino.

Arlindo Chinaglia (PT-SP) confirmou que tem ouvido de vários líderes - e também opinado - que esta CPI será ruim para o país. Admite que, caso a CPI venha a ser instalada de fato, os líderes vão indicar seus integrantes. Mas o deputado trabalha para que isto não seja necessário.

- Toda CPI, quando encerrada, tem o relatório encaminhado ao Ministério Público. O MP já está neste caso. A CPI pode quebrar sigilos? A PF, autorizada pela Justiça, também pode - justificou Chinaglia.

A oposição também não está parada. Segundo assessores, existe uma série de assinaturas sobressalentes, caso o governo consiga retirar o apoio de alguns parlamentares. O temor de Severino de a CPI atropelar os trabalhos da Casa aconteceu ontem: revoltados com as ameaças do governo de estender as investigações para o período das privatizações, incluindo o setor elétrico, o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), obstruiu a sessão de ontem, permitindo a votação apenas de uma Medida Provisória.

- A CPI do Setor Elétrico não está funcionando porque o governo não dá quorum. Queremos investigar tudo, não aceitamos bravatas - cobrou Maia.

O impasse derrubou o acordo fechado pelos líderes na quarta, pelo qual seriam votadas duas MPs ontem.