Título: Lula perde mais um aliado
Autor: Leila Youssef
Fonte: Jornal do Brasil, 20/05/2005, País, p. A3

PV, partido do ministro Gilberto Gil, retira apoio ao presidente, enquanto governo corre contra o tempo para impedir CPI

Em meio a uma intrincada crise de desarticulação política e a insistência em barrar uma CPI para investigar esquema de propina nos Correios e preservar o ''parceiro'', Roberto Jefferson, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viu ontem sua base, frágil, encolher mais um pouco. O PV, do ministro da Cultura, Gilberto Gil, e do deputado federal Zequinha Sarney (MA), filho do senador José Sarney (PMDB), anunciou a saída da base de apoio ao governo no Congresso. Os verdes eram ''parceiros'' de longa data do PT. O PDT e PPS já haviam desembarcado dessa base. O governo que, já estava sitiado, se vê agora pressionado por uma verdadeira corrida contra o tempo. O Poder Executivo tem cinco dias de prazo para se mobilizar e convencer deputados e senadores a enterrarem a CPI da propina retirando suas assinaturas do requerimento. Ontem, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e opresidente da Câmara, Severino Cavalcanti, marcaram para as 10 horas de quarta-feira a sessão conjunta onde será lido o pedido. Para instalar uma CPI, é preciso ter a adesão mínima de 171 deputados e de 27 senadores. A oposição comemora, afirmando que tem reserva de sobra embaixo da manga.

Nesse período, os aliados de Lula vão fazer de tudo para convencer seus pares de que a investigação do legislativo servirá apenas de palanque para a oposição. Para reforçar a argumentação, vão fazer uso de promessas de cargos e liberação de emendas parlamentares.

Enquanto seus parceiros, alguns de primeira hora, travavam a batalha anti-CPI, o clima esquentava ainda mais no Senado. A rejeição ao nome do ex-secretário de Justiça do Estado de São Paulo e ex-presidente da Febem Alexandre Moraes, aliado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por influência do Planalto, irritou ainda mais os senadores do PFL e do PSDB.

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), admitiu o ''equívoco'' na articulação, mas avisou que não vai assumir a responsabilidade nem tomar providências, como exige a oposição sob ameaça de trancar a pauta.

- Houve um equívoco sim. Não havia intenção política, e sim muitas tensão de plenário que vinha se acumulando.

Em mais um dia difícil para o governo do PT, políticos próximos ao presidente Lula revelavam as queixas que ele fez na noite anterior. O presidente prometeu a quatro governadores e a dois ministros, que não venderia sua alma ao Diabo para se reeleger.

Com Folhapress