Título: Terremoto rasgou o fundo do mar
Autor: WASHINGTON
Fonte: Jornal do Brasil, 20/05/2005, Internacional, p. A8

Estudos ampliam magnitude do sismo no Sudeste da Ásia, que sacudiu placas tectônicas e abriu fenda de 1,3 mil km no globo

Ele deslocou estruturas rochosas em mais de 20 metros de altura e fez um rasgo de mais de 1,3 mil km de distância, como a abertura de um zíper.

- Um pequeno abalo dura menos que um segundo e um moderado, alguns segundos. O do final do ano passado durou, pelo menos, 10 minutos - disse Charles Ammon, professor assistente de Geociência na Penn State University, EUA.

O tsunami que se seguiu, atingiu as costas de vários países do oceano Índico, incluindo Indonésia, Malásia, Índia e Sri Lanka, matando mais de 300 mil pessoas em 26 de dezembro de 2004.

Jeffrey Park, do Departamento de Geologia e Geofísica da Universidade de Yale, diz que as oscilações na Terra que se seguiram permitiram estudar as características do terremoto e do planeta.

- Foi como bater em uma melancia para ver se está madura. Os tons naturais produzidos pelo terremoto nos sismógrafos nos ajudaram a detectar as propriedades do manto e do núcleo terrestres.

A primeira vez em que foram notadas oscilações provocadas na crosta por um abalo aconteceu no tremor que atingiu o Sul do Chile em 22 de maio de 1960.

Park acrescentou que agora, com dados mais precisos, o terremoto de dezembro poderá ajudar a resolver várias controvérsias sobre as placas tectônicas.

O conhecimento dos cientistas também tem outra aplicação: o aprimoramento dos sistemas de prevenção de terremotos e tsunamis.

Em outro estudo publicado pela Science, cientistas do Instituto Wadia de Geologia do Himalaia e do Instituto Geológico dos EUA informaram que o terremoto submarino foi mais violento e duradouro do que se achava.

A ruptura e o balanço da Terra foram levados em conta para recalcular a energia total liberada pelo fenômeno. O resultado é uma nova magnitude, entre 9,15 e 9,3 graus na escala Richter, superior aos 9 graus anunciados oficialmente.

Para Roger Bilham, professor de Geociência da Universidade de Colorado, EUA, o terremoto liberou energia comparável a uma explosão de 100 mil megaton. O maior artefato atômico da história, a soviética Tsar Bomba, tinha 50 megaton. Ela foi testada em 1961 para medir forças com os americanos.

Além disso, grande parte do movimento ocorrido na falha do tremor continuou durante um tempo que variou entre 30 minutos e três horas depois do primeiro abalo.

Roland Bürgmann, professor de Ciências Planetárias e da Terra na Universidade da Califórnia, disse que isso poderia explicar porque o dano estrutural foi menor que o esperado e a causa do registro do sismo ter se dado em alguns lugares depois do maremoto e mais de meia hora após o primeiro tremor.

O deslocamento vertical da falha ao longo de seus 1,3 mil km foi de pelo menos 5 m, embora no extremo Sul tenha chegado a quase 20 m. Park alerta que a natureza não acalmou:

- Se olharmos para a história dos grandes terremotos do século 20, três deles aconteceram a cada 15 anos.

O terremoto de 28 de março, que ocorreu na mesma falha do anterior e com 8,7 graus de magnitude, aconteceu antes do esperado, mas não foi imprevisto, disse o cientista.

- Aposto meu dinheiro que teremos outro abalo com mais de 8 graus nos próximos 10 anos.