Título: Serviço nas mãos dos militares
Autor: Nelson Carlos de Souza
Fonte: Jornal do Brasil, 22/05/2005, País, p. A7

Até Lula se dobrou ao serviço secreto e permitiu que militares, inclusive alguns da época da ditadura, permanecessem no cargo e pagou por isso. No livro, Figueiredo diz que no primeiro escândalo político dentro de seu governo - caso Waldomiro Diniz - governistas encontraram digitais da comunidade secreta. Segundo apuração de seus assessores, um informante da Agência Brasileira de Informações (Abin) e um agente do serviço secreto da Aeronáutica foram os autores da manobra e participaram da operação que produziu, e fez chegar a imprensa, dois vídeos que abalaram seu governo e chocaram a população.

Na primeira gravação, o assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz aparecia, quando ainda era presidente da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj), pedindo propina ao empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, do ramo de loterias eletrônicas. No outro vídeo, elaborado pelo serviço secreto, o mesmo assessor fazia uma suspeita troca de valises no aeroporto de Brasília.

Logo depois do escândalo, a diretoria da Abin caiu. Em julho do ano passado, Lula trocou a direção do órgão e nomeou para o cargo seu amigo, o delegado paulista Mauro Marcelo de Lima e Silva para a direção da agência. Em seu discurso de posse, o novo diretor da Abin prometeu trazer novamente paz ao órgão que digladiava com o poder.

Numa de suas primeiras ações, Mauro Marcelo convidou a imprensa para conhecer as dependências do serviço, e não conseguiu esconder que as regras permaneciam as mesmas. Como na gestão de seus antecessores, o alvo do órgão continuava a ser os movimentos sociais.

A maior demonstração de que Lula afinou sua relação com o serviço secreto aconteceu no oitavo mês de seu governo, quando o ''PT do presidente rasgou a sua história de luta em favor da localização dos corpos dos 61 desaparecidos políticos da guerrilha do Araguaia'' e não cumpriu a sentença que ordenava a União a localizar os corpos. Ao contrário, mandou que a Advocacia Geral da União recorresse da decisão. A guerrilha, como o autor diz no livro, era um dos calos mais doídos das Forças Armadas.

''Lula ainda tentou um remendo ao ordenar a criação de uma comissão encarregada de localizar os corpos dos militantes do Araguaia. Esse grupo, entretanto, era formado apenas por integrantes do próprio Executivo.''

Por fim, ao invés de revogar o decreto de FH que prorrogava os prazos para consulta aos arquivos do serviço secreto, ouviu as palavras do General Félix, chefe da Abin: ''É possível que haja informações que não possam ser divulgadas nem mesmo depois de 200 anos''.

O livro relata que General Félix ainda mandou o seguinte recado ao presidente:

- Tem gente que naquela época estava na clandestinidade, tinha outra mulher e hoje está com a mulher antiga. Se isso aparecer, você pode até destruir uma família. Tem os companheiros que entregaram outros companheiros, está tudo escrito. Não tem nada bonito ali - disse.

Lula entendeu o recado e no dia seguinte reviu a legislação, mas manteve o sigilo das informações.

Seu antecessor, Fernando Henrique fez uso do serviço secreto e de militares no caso da invasão de sua fazenda em Buritis, no interior de São Paulo. Ali, agentes foram infiltrados no Movimento dos Sem-Terra para tentar evitar a invasão a propriedade. Outro escândalo do serviço secreto de FH foi o caso das andorinhas: agentes femininas que usavam o corpo para obter informações. Uma de suas vítimas foi o procurador da República Luiz Francisco de Souza, na época empenhado em apurar irregularidades no governo e um dos adversários potencialmente mais perigosos de FH.