Título: Educação para tolerância ao Islã
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 22/05/2005, Internacional, p. A10

Projeto de ampliação de centro islâmico em Michigan tem como objetivo atrair atenção de americanos não-muçulmanos

A comunidade muçulmana da área de Detroit, nos Estados Unidos, ganhou este mês uma das mais belas mesquitas do país, com um domo de ouro ladeado por dois imponentes minaretes. Mas o projeto de expansão, de US$ 14 milhões, é ainda mais ambicioso. Quando o auditório de 700 assentos, as duas bibliotecas e a escola muçulmana ficarem prontos, o Islamic Center of America (Icofa) vai ocupar uma área de 6,5 km² e se tornar o maior centro islâmico do país. Um dos objetivos é atrair americanos não-muçulmanos para aprender sobre o Islã.

Apesar de ousado, o projeto na cidade de Dearborn não é nacional. De acordo com especialistas, o maior trunfo do novo Islamic Center of America é chamar atenção para os outros centros islâmicos das metrópoles dos EUA, que também oferecem seminários sobre os costumes dos seguidores de Maomé.

- A publicidade será benéfica para os muçulmanos americanos. As pessoas vão sentir vontade de aprender mais sobre o Islamismo - afirma ao JB Aminah McCloud, diretora do Islamic World Studies Program da Universidade DePaul, em Michigan.

- Infelizmente, ainda existem muitos mal-entendidos entre muçulmanos e americanos de outras fés - concorda o imã Al Qazwini.

O iraquiano nasceu em 1964, na cidade xiita de Kerbala, filho de uma família de clérigos. Em 1992, foi para os EUA e cinco anos depois se tornou imã residente na mesquita de Dearborn, fundada em 1963 pelo imã Mohamed Jawwad. Foi a partir deste prédio que o Icofa começou a ser construído, há cinco anos.

- O centro é um símbolo do agudo crescimento e avanço de nossa comunidade - defende Al Qazwini.

O principal salão de prece acomoda mil pessoas: 700 homens no chão e 300 mulheres em um balcão. As portas da mesquita foram importadas da Turquia, a madeira, das Filipinas, o granito da Índia e do Brasil e os candelabros, do Egito.

- Foi um trabalho de amor - resumiu o arquiteto Alan Abbas, um imigrante do Líbano.

O centro islâmico inclui ainda a Muslim American Youth Academy, que abriu as portas em 1997. Além disso, fica a apenas alguns quilômetros de distância do Museu Nacional Árabe-Americano, também inaugurado este mês. Tudo para atender à crescente demanda. De acordo com dados das mesquitas, a minoria muçulmana em Michigan vem aumentando desde a década de 30 e é composta majoritariamente de descendentes de árabes. Mas o número oficial não é conhecido, pois o censo americano não pergunta sobre religião.

- Os números são controversos. Há quem diga que existam 8 milhões de muçulmanos nos EUA, o que seria uma comunidade maior do que a judaica. O mais realista é pensarmos entre 5 e 6 milhões de maometanos - estima Ali Asani, pesquisador de Islã no Comitê de Estudo da Religião, na Universidade de Harvard.

Segundo o professor, também não é correto falar em ''uma comunidade'' muçulmana nos EUA:

- Um terço dos escravos africanos vindos para a colônia britânica eram islâmicos. No pós-Guerra começaram a chegar os imigrantes do Oriente Médio. Estes já estão bem integrados. Os que chegaram nos anos 90 ainda sentem relutância.

Os atentados de 11 de setembro de 2001 dificultaram ainda mais a integração maometana. Um relatório do Conselho de Relações Americanas-Muçulamanas (Cair) - o mais importante grupo pela liberdade civil islâmica nos EUA, aponta que no ano passado os casos de discriminação e importunação contra os seguidores de Maomé continuavam crescendo.

Por isso, as iniciativas de educar a população sobre o Islã são tão importantes, defendem os especialistas.

- Desde o 11 de setembro, escolas secundárias discutem a religião de Maomé. Os adolescentes americanos de hoje têm mais contato com informações sobre o Islã do que a geração anterior. Nas universidades também cresceu o acesso a livros sobre o assunto, que também está sendo mais estudado. O interesse aumentou em todos os níveis - afirma o pesquisador.

Entretanto, mesmo com a oferta em expansão, há quem não aproveite.

- Ainda há pessoas que temem o Islã, especialmente grupos religiosos cristãos, de extrema direita. Mas o importante é percebemos que os EUA não são um país de cristãos e judeus. Temos todas as fés aqui, inclusive budistas, hindus e muçulmanos - alerta Asani.