Título: Mercado revive tensão pré-Copom
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2004, Economia & Negocios, p. A-17

Bolsa e câmbio fecham praticamente estáveis em dia de fraco movimento. Analistas prevêem nova alta de juros amanhã

O tema virou até piada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mês passado e agora voltou a assombrar o mercado financeiro. A Tensão Pré-Copom (TPC, referência ao Comitê de Política Monetária do Banco Central) abateu ontem os investidores brasileiros, que viveram um dia nada mais do que morno. Embora o aumento de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic, hoje em 16,25% ao ano), seja consenso no mercado, a bolsa fechou em ligeira alta (0,18%) e o dólar manteve-se estável. O Copom fixa a nova taxa em reunião de hoje a amanhã. A novidade ficou no mercado futuro, onde os investidores já indicavam suas apostas. Os contratos negociados para abril do ano que vem - o de maior liquidez - subiram para 17,23%, ante os 17,19% da última sexta-feira. Já os de novembro (os que mais se aproximam da taxa efetiva) avançaram de 16,36% para 16,41%.

- O Banco Central tem dado sinais de que está preocupado com o ritmo da atividade econômica - afirmou Roberto Padovani, sócio-diretor da consultoria Tendências. - O último dado divulgado pelo IBGE sobre a produção industrial (alta de 1,1% em setembro frente a agosto) veio maior do que o esperado pelo mais otimista dos analistas.

Segundo Padovani, a decisão do Copom deverá ser de alta de 0,25 ponto percentual, embora os indicadores de inflação e taxa de câmbio se mostrem estáveis.

- Isso fará com que a alta dos juros não seja maior agora. Não é preciso acelerar já nas correções, é possível acompanhar a inflação no dia-a-dia. Nós prevemos que, depois do pico de julho e agosto, os preços devem se acomodar em patamares baixos.

Na pesquisa semanal Focus, do Banco Central - com 100 economistas dos principais bancos e consultorias do país -, a inflação projetada para o ano sofreu pequena alta. A previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, no qual o governo mira sua meta) subiu de 7,13% para 7,16% no ano.

A previsão dos analistas para a taxa de juros em dezembro subiu para 17% ao ano. Já em 2005, a expectativa dos analistas é de que a Selic feche o ano em 15,5%.

As estimativas para o crescimento da economia se mantiveram inalteradas. Para este ano, os analistas consultados prevêem expansão de 4,53%, contra 4,5% da semana anterior. Para o ano que vem, a expectativa de avanço do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país) subiu de 3,55% para 3,6%

A previsão de crescimento industrial passou de 6,55% para 7,18% neste ano. Para o ano que vem, a expectativa é que a indústria cresça 4,5%.

Para o analista Marcelo de Ávila, da consultoria Global Invest, o aumento dos juros não virá na melhor hora.

- A demanda não está tão grande e a alta de juros vai encarecer ainda mais o crédito - avalia o economista, para quem a medida pode afugentar novos investimentos. - O movimento pode ser afetado não por conta do aumento agora, mas devido a uma expectativa de nova elevação no futuro.

Segundo Ávila, os índices de inflação têm saído abaixo da expectativa dos analistas.

- Daqui para frente não haverá grande recomposição de preços e renda como houve ao longo de 2004. Mas o Banco Central deverá ser coerente com os últimos relatórios e atas de outras reuniões.

O preço do petróleo no mercado mundial e o repasse para as bombas não preocupam. Para o analista da Global Station, o aumento total deverá ser de 7,5%, o que deve provocar impacto de 0,19 ponto percentual no IPCA.

Ontem, o dólar fechou praticamente estável, cotado a R$ 2,85 (pequena alta de 0,07%), em um dia de volume fraco de negócios.

No final dos negócios no mercado de câmbio, o risco Brasil operava com pequena alta de 0,21%, aos 465 pontos. O C-Bond, principal título da dívida externa do país, ficou estável, negociado a 99,12% do valor de face. As bolsas americanas fecharam em alta. Os índices reagiram à queda no barril do petróleo, recuperando-se das notícias desapontadoras sobre lucros de grandes companhias. Na Bolsa de Valores de Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,24%, enquanto o Standard&Poor's 500 ganhou 0,52% e fechou aos 1.114 pontos. A bolsa eletrônica Nasdaq teve alta de 1,28%.