Título: Férias coletivas contra perdas
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 22/05/2005, Economia & Negócios, p. A17

Setores esperam por melhora para exportações w Vítimas do câmbio continuação da Pág. A17

O presidente da Abimóvel, alerta para outro risco decorrente da apreciação do real. De acordo com Rigoni, as vendas externas de matérias-primas para a indústria de móveis ficaram em torno de US$ 3 bilhões em 2004.

- A queda da rentabilidade afeta mais os produtos manufaturados e a tendência de crescimento da venda de móveis acaba, estimulando os negócios com matérias-primas que serão manufaturadas em outros países. Na prática, acabamos criando empregos em outros lugares - protesta Rigoni.

O setor encerrou 2004 com exportações de US$ 661 milhões, mas a alta de custos foi de 25%. Álvaro Weiss, presidente da Artefama - empresa que destina 100% da produção a Europa e EUA - participou do encontro com os parlamentares catarinenses na semana passada e afirmou que muitas indústrias da região de São Bento do Sul, principal produtora no estado, estão antecipando férias para evitar perdas maiores com o câmbio.

Em 2004, a Artefama exportou US$ 32 milhões e a expectativa para este ano é atingir US$ 36 milhões.

- Com o dólar de agora, não sei se chega a isso - lamenta.

A indústria de calçados é outro setor que atravessa dificuldades causadas pelo patamar do câmbio. Embora o faturamento com as exportações tenha crescido 8%, de US$ 579,8 milhões no primeiro quadrimestre de 2004 para US$ 626 milhões de janeiro a abril deste ano, o volume vendido ao exterior caiu 10%, de 85 milhões de pares de sapato para 76,2 milhões em igual período.

- A vantagem é que o preço médio do par de sapatos subiu 21%, de US$ 6,82 para US$ 8,22. Mesmo assim, quando medimos o faturamento mês a mês, percebemos queda expressiva, que em abril foi de 7% - diz Élcio Jacometti, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, acrescentando que a elevação dos preços brasileiros não é benéfica, uma vez que abre espaço para que países concorrentes, sobretudo a China, tomem clientes das indústrias nacionais.

Em todo o mundo, a indústria se ressente do avanço das exportações chinesas e estuda mecanismos de frear o apetite do gigante asiático. Na última semana, o Brasil anunciou que pretende estipular salvaguardas para proteger a indústria local dos têxteis chineses - os grandes vilões -, mas também de produtos manufaturados . A China é acusada de manter o yuan desvalorizado para manter a competitividade de suas exportações, estratégia diferente da brasileira.

O estado mais prejudicado pelo recuo do dólar é o Rio Grande do Sul, responsável por 70% das exportações brasileiras de calçados. Segundo Jacometti, só na região do município gaúcho de Sapiranga 12 indústrias demitiram mais de 3 mil funcionários em decorrência das perdas decorrentes do câmbio.

- Com o dólar neste patamar, o produtor nacional de sapatos que exporta acaba tendo prejuízo no fim do mês - diz Élcio.